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Qual será o meu futuro?

denise-aragão

Dentro do carro, enquanto esperava JP sair da escola,  eu lia emails e checava mensagens.
Repentinamente, a porta do carro se abriu e, antes que eu  dissesse qualquer coisa, ele disparou à queima-roupa:
“Mamãe, qual será o meu futuro?”

Senti-me como se tivesse recebido um soco na boca do estômago. As pernas fraquejaram e o ar faltou. “Mamãe , qual será o meu futuro?”
Como não obteve resposta, meu filho repetiu a pergunta.

Num ímpeto materno, respondi praticamente sussurrando, em um fio de voz:
“Seu futuro será ótimo, meu amor!”. “Meu futuro será ótimo!”, entusiasticamente, com um sorriso largo no rosto, ele repetiu minha resposta.

Neste momento, percebi que ele tinha em suas mãos um panfleto de propaganda de um curso de inglês. No panfleto, em letras gigantes e vermelhas, a pergunta “Qual será o seu futuro?” se destacava do restante do texto.

Compreendi então que sua pergunta tinha sido motivada pela frase que ele leu no panfleto.
Mil pensamentos assolaram minha mente; a grande maioria deles, infelizmente, de cunho pessimista.

O que eu deveria dizer ao meu filho? A verdade?
Deveria dizer que se o futuro for igual ao presente teremos um cenário pouco animador e até mesmo sombrio?

Como dizer para ele que grande parte da sociedade ainda é preconceituosa? Que existem aqueles que ainda creem que as pessoas com deficiência são inferiores aos demais; como explicar que a inclusão escolar ainda acontece “a fórceps” e que inúmeros estabelecimentos de ensino ainda se recusam a matricular alunos com deficiências, com as justificativas mais absurdas possíveis; de que forma seria  possível dizer a ele que as pessoas podem ser muito cruéis com aqueles que são diferentes? Como dizer a ele que tenho MUITO medo do futuro quando eu aqui não mais estiver?

Sem que pudesse conter, lágrimas escorreram pelo meu rosto. Ao pararmos em um semáforo, ele se virou  para mim e percebeu minhas lágrimas.
Tentei disfarçar, mas fracassei; ele perguntou, então, porque eu estava chorando.
Mas não consegui responder. Então ele me olhou e concluiu: “Ah, mamãe! Não se preocupe! Quando eu casar e tiver meus filhos e você estiver velhinha, você e o papai vão morar comigo. Eu vou cuidar de vocês!”

Dito isso, esticou a mãozinha e enxugou minhas lágrimas. Meu coração se encheu de uma esperança imensa que transbordou por todos os meus poros. O sinal verde apareceu no semáforo, indicando que o caminho estava livre. Sorri de volta para meu menino e lhe disse:
“Sim, meu querido, não importa o que aconteça no futuro, estaremos juntos!”

Mesmo não sabendo qual será o futuro de meu filho, e receando por tudo aquilo que imagino que possa acontecer, tenho a certeza de que o “presente” que construímos é uma bela semente de amor que tem germinado, crescido e florescido da forma mais bela que poderia ter acontecido.

E é esta esperança em dias melhores que alimento dentro de mim e pela qual luto. Diariamente.

 

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