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Alterações comportamentais em adolescentes autistas

denise-aragão

“Entendeu ou quer que eu desenhe?”
À minha frente, o autor da frase me olhava. Meu filho caçula, de 13 anos de idade, era quem me interpelava de forma desafiadora.

Muito embora eu me esforce para compreender que meu menino cresceu, não é fácil internalizar que a adolescência já começou a transformá-lo em um “ser eternamente mal humorado e de poucas palavras”.

Não é a primeira vez que “esbarro” com a adolescência; não obstante, há pouco tempo atrás, experimentamos uma difícil convivência quando meu filho mais velho vivenciava esta fase.

O fato de já ser uma velha conhecida não torna, nem de longe, mais fácil a situação pois, desta vez, a adolescência se apresenta de forma ainda mais complexa e enigmática. Potencializada pelo autismo de meu filho caçula, esta fase, em muitos momentos, se agiganta, sendo temperada com algumas lágrimas e doses extras de humor.

O menino doce que me considerava uma super heroína já percebeu minhas inúmeras falhas e defeitos, tendo concluído que sou apenas e tão somente uma mera mortal como qualquer outro ser humano.

Deixei de ser a MAMÃE (com letras maiúsculas !) que sabe tudo para me tornar a chata da mãe, aquela que impõe regras e limites e vive dizendo nãos. Neste aspecto, não há nada que o diferencie de seu irmão nesta mesma época; guardadas as devidas proporções e levando em consideração as individualidades, os comportamentos se assemelham, com mínimas diferenças entre si.

A grande verdade é que nos acostumamos a falar com nossos filhos e filhas como se fôssemos os donos da verdade, exclusivos donos da razão. Passamos dez, onze, doze anos de suas (e de nossas !) vidas lhes ensinando o certo e o errado; sem quase nunca sermos contestados.

E apesar de sabermos que a chegada da adolescência é inevitável, jamais estaremos suficientemente prontos para enfrentá-la. Por quê? Porque “descer do pedestal” em que nossos filhos nos colocam é doloroso. Porque aceitar que nossas opiniões não são mais tão importantes em suas vidas nos machuca.

Porque sermos contestados e confrontados por eles nos causa enorme desconforto com o qual ainda não sabemos (e sabe Deus se algum um dia conseguiremos!) lidar. Voltando ao questionamento que deu início a este texto:

Independente da pergunta que eu faça, a resposta vem, quase sempre, em um tom de desafio ou sarcasmo, testando ao máximo meus limites. Se a situação não é uma novidade para mim, por que ainda me causa surpresa e incredulidade?

A resposta talvez esteja no fato de eu ter super estimado o autismo em si, em detrimento da adolescência, minimizando-a.

Esqueci- me, uma vez mais, que existe um indivíduo – muito antes e além do autismo. E que este indivíduo possui características próprias, personalidade e temperamento únicos. É inegável que o autismo dramatiza a situação, tornando-a mais “apimentada” e exacerbada em determinados momentos. Mas fato é que as dificuldades que enfrentamos agora são, em grande parte, oriundas da adolescência e não do autismo.

Meu filho é um adolescente! E como tal, nos oferece todas as demandas típicas e próprias desta delicada e intrínseca fase da vida de todo ser humano. O autismo é um “plus”, o algo mais que potencializa esta mistura, ora deixando-a mais explosiva, ora transformando-a em uma grande comédia ( deixaremos as pérolas da comédia para um outro post!).

Para sobreviver à sua adolescência, será necessário paciência, sabedoria, jogo de cintura, muita conversa e muito, mas muito AMOR! Exatamente os mesmos ingredientes que precisei utilizar com meu filho mais velho.

É… não restam dúvidas de que a adolescência é uma fase que não deixa pedra sobre pedra. Ninguém resiste às suas transformações. Nem mesmo o autismo.
Denise Aragão

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