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Desenvolvimento emocional no tratamento com música

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Por: Mani Carneiro (Músico e Professor) e Mariana Barreto (Psicóloga)

Falaremos hoje sobre o desenvolvimento emocional alcançado pelo exercício constante da música e em como ela se manifesta em crianças autistas, modulando seu comportamento, seu foco, sua atenção e, consequentemente, o ganho na sua comunicação com o mundo externo, desde uma abordagem neurocientífica até alguns exemplos práticos.

A música tem um imenso poder de influenciar e atuar constantemente sobre nós, acelerando ou retardando, regulando ou desregulando as batidas do coração, relaxando ou tensionando os nervos, influindo na pressão sanguínea e no ritmo da respiração. É comprovado o seu efeito sobre as emoções e desejos do homem. A música estimula a produção de substâncias relacionadas ao prazer, além de regular nossos sentimentos e ajudar na concentração, desenvolve os sentidos e provoca bem-estar.

Música proporciona prazer, promove o intelecto e o desenvolvimento emocional, a interação com outras pessoas, treinamento de habilidades linguísticas, motoras e sociais, além de ser livre de efeitos colaterais.

Déficits sociais específicos entre os indivíduos com transtorno autista geralmente incluem dificuldades em expressar emoções, compreender as emoções dos outros e empatia, bem como a incapacidade de interpretar os sinais sociais, avaliar a formalidade de eventos sociais, e agir em conformidade. A incapacidade de entender as expressões emocionais dos outros e responder apropriadamente impede o desenvolvimento de relações interpessoais significativas, colocando-os em risco de rejeição
social (Frith, 2004; Baron-Cohen, 1995).

Décadas de pesquisa em musicoterapia têm indicado que a música facilita e apoia o desejo de crianças autistas em se comunicar. Algumas das áreas de melhoria verificadas incluem: aumento adequado dos comportamentos sociais, diminuição de estereotipias, aumento de verbalizações, gestos, aumento dos atos comunicativos e engajamento com os outros, dentre outros efeitos positivos. (Wigram; Gold, 2006; Molnar-Szakacs et. al., 2009 ).

Nos últimos anos, tem se intensificado o número de estudos relacionados às bases neurais da música, que revelam que diferentes aspectos do processamento musical envolvem quase todas as regiões do cérebro, incluindo o córtex pré-frontal, córtex pré-motor, córtex motor, córtex somatosensorial, lobo temporal, córtex parietal, córtex occipital, cerebelo e sistema límbico (Molnar-Szakacs et. al., 2009).

Há uma atividade intensa do cérebro enquanto a música está sendo escutada, cantada ou tocada, estimulando e acelerando a comunicação entre os neurônios, como também possibilitando novas “conexões” neurais entre diferentes áreas do cérebro, dando ao próprio a capacidade de se “readaptar” e criar novas conexões,  novos caminhos para a assimilação, o processamento e a resposta às informações recebidas. Como as regiões cerebrais correspondentes à música não são danificadas pelo autismo, é grande a eficácia da música quando estimulada.

Através de exercícios sonoros envolvendo determinadas canções e/ou melodias e até mesmo variação de ritmos, podemos trabalhar gradativamente o controle emocional e a identificação das emoções inter e intrapessoais. Dessa maneira, estamos contribuindo para o manejo de ansiedade na criança, uma vez a relação com o terapeuta irá promover o aprendizado de uma respiração mais controlada, trabalhar seu tempo interno, e de espera do outro, modulando e a organizando, passo a passo através da ludicidade.

A música serve como um “condutor psico-emocional” aumentando o fluxo neuronal, liberando neurotransmissores que proporcionam prazer e bem-estar, como Dopamina e Serotonina, hiperestimulando e acalmando, ao mesmo tempo, a atividade cerebral, dando ao cérebro hiperexcitado do autista, maior tempo de descanso (Resting State), sensação de paz e organização nas regiões da linguagem verbal e emocional.

Controladas e estabilizadas estas partes, a música ajuda no processo de abrir maior caminho (através das conexões neuronais estimuladas) para o desenvolvimento do raciocínio, comportamental e, por consequência, social.

A combinação de ritmo, harmonia e melodia anima e acalma, facilita o aprendizado e a concentração, promove interação e desenvolve os sentidos. Assim, a música pode controlar reações emocionais e facilitar o entendimento de informações cognitivas.

É impressionante seu poder de “ligação” e “tocante” acompanhar a mudança no desenvolver da criança com a ajuda dessa “chave para os sentidos” (Mani Carneiro).

 “A música é capaz de reproduzir, em sua forma real, a dor que dilacera a alma e o sorriso que inebria” (Beethoven).

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