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A um passo da descoberta

denise-aragão
No mês em que é comemorado o Dia Mundial pela Conscientização do Autismo, meu filho me surpreendeu com perguntas que me fizeram perceber o quão próximo ele está em saber sobre sua condição. Este é um assunto que está longe de ser tratado de forma “escondida” dele; ao contrário, sempre falamos abertamente sobre Autismo, inclusive na sua presença, mas ele jamais fez qualquer indagação a respeito.
Há cerca de 5 anos, ele havia me perguntado se “tinha algum problema”. Na hora, fiquei sem ar, sem chão e, infelizmente, também sem resposta. Em conversa com sua terapeuta, recebi orientações para tratar a questão como uma diferença e jamais como um problema. E foi o que fiz  quando a pergunta ressurgiu, tempos depois.
“Mamãe, eu tenho algum problema?”
“Não, meu filho. Você é apenas diferente, pois todos nós somos diferentes uns dos outros”
“Ah , eu sei, mamãe! Umas pessoas são altas e outras não. Outras têm cabelos pretos e algumas, cabelos loiros… todos são mesmo diferentes!”
E assim foi o desfecho de nossa conversa, tempos atrás. Depois disso, nunca mais ele tocou no assunto. Mas a adolescência é uma fase que traz mudanças.  E não seria exagero dizer o quão radicais estas podem ser.
Aos 13 anos e 5 meses, meu menino já é um rapazinho. Sua face  tem se tornado cada vez mais adulta, tendo sobrado pouquíssimos vestígios da criança que já foi um dia. O corte de cabelo mais atual, com topete e gel, e os óculos de aros modernos (armação escolhida por ele, pela primeira vez, sem nenhuma ajuda!) conferem ao meu filho uma aparência típica e natural à sua idade. A leve penugem sob os lábios, que ele insiste em chamar de bigode, arremata o visual adolescente.
As muitas perguntas, as constantes e infindáveis oscilações de humor, a impaciência e a curiosidade em descobrir o mundo que para ele se descortina, têm revelado um filho que eu desconhecia e com o qual, mais uma vez, estou tendo que aprender a lidar.
Há dois anos, tive a primeira surpresa, na consulta com sua Neurologista; quando ela perguntou quais eram as novidades e eu me preparava para responder (de forma verborrágica!) como sempre fiz desde que iniciamos o tratamento. Meu filho saiu na frente e começou a responder as perguntas. Desta consulta em diante, ele assumiu o protagonismo que lhe pertence e sinaliza suas necessidades ainda que, por vezes, o faça de forma um tanto confusa.
De algum tempo para cá, sua percepção sobre o mundo ao seu redor tem se tornado cada vez mais aguçada. Além disso, ele tem apresentado uma leitura social cada vez mais correta e adequada sobre as pessoas e as situações como um todo. E é justamente neste ponto que começou a se perceber diferente dos demais:
“Mamãe, apenas as crianças que têm dificuldades precisam de mediadora, não é?”
“Quando eu tiver um bigode bem grande (risos) eu não vou precisar mais de mediadora, né, mamãe?”
“Eu preciso fazer movimentos esquisitos (estereotipias) quando estou nervoso. Porque me acalma e eu gosto muito. Mas as outras pessoas não fazem.”
“Mamãe, eu não consigo olhar para você quando você está falando comigo, porque se eu olhar para você, eu não consigo escutar o que você está dizendo.”
Estas e tantas outras falas sinalizam que é uma questão de (pouco) tempo até que ele descubra sobre sua condição. Falta pouco para “sua ficha cair” para usar uma expressão popular. Como ele reagirá? O que pensará a respeito?
Inúmeras dúvidas e angústias assolam meu coração e roubam minha paz. E aqui estou eu, dividindo com vocês mais esta etapa de nossa jornada.
Não sei o que nos aguarda mais adiante …
Porém, posso assegurar que enfrentarei todas as barreiras munida com a única arma que possuo:
o imenso AMOR que sinto por meu filho.

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