O tema me faz recordar dos treinos de jiu-jitsu e musculação em Copacabana há mais de quinze anos, quando colegas de treinamento entravam na academia portando ampolas de medicamentos controlados, mas que eram facilmente adquiridos sem receitas médicas nas farmácias do bairro. Na época, estudante de medicina, era freqüentemente questionado sobre tais medicamentos e apesar do discurso contra a utilização dessas substâncias, pude observar alguns colegas se perdendo na utilização indiscriminada de esteróides anabolizantes. Acompanhado do rápido e acentuado ganho muscular, tais colegas passaram a se apresentar estranhamente agitados, agressivos, com seus rostos completamente inchados, desfigurados, cobertos por espinhas e alguns deles evidenciavam ainda ginecomastia, o crescimento exagerado das mamas.
Surpreendentemente, seis anos após essa época reencontrei um desses colegas de treino, para ironia do destino, na porta de meu consultório médico. Desta vez apresentava-se não como atleta e sim como paciente e com o triste diagnóstico de uso abusivo de esteróides anabolizantes.
Os esteróides anabolizantes são um grupo de substâncias em que se inclui a testosterona, o hormônio natural masculino, além de dezenas de hormônios sintéticos derivados da própria testosterona, que foram desenvolvidos nos últimos cinqüenta anos. Essas substâncias são responsáveis pelo aparecimento das características sexuais masculinas e são capazes de produzir um efeito anabólico, isto é, produzem um aumento na síntese de proteínas para desenvolvimento de músculos e assim provocam um aumento significativo da massa muscular, da força, de explosão e do volume da musculatura corporal.
Atualmente essas substâncias são legalmente produzidas para utilização médica em pacientes com doenças que causam perda e atrofia muscular ou doenças relacionadas com perda hormonal, sendo vendidos com receita médica sob a forma de comprimidos e ampolas injetáveis.
Essas substâncias foram amplamente utilizadas por atletas profissionais com a intenção de melhorar seu desempenho atlético, mas com a descoberta de seus malefícios foram banidas oficialmente dos esportes há aproximadamente trinta anos. Apesar desse fato, constantemente observamos nos noticiários esportivos flagrantes do uso de esteróides anabolizantes por atletas profissionais. Há casos que ganharam notoriedade e repercussão, como o do ex-velocista olímpico canadense Ben Johnson nos jogos olímpicos de 1988, em Seul ou da velocista americana tricampeã olímpica Florence Griffith Joyner, que nunca fora flagrada em exames antidoping, mas que conviveu com fortes suspeitas de uso de esteróides anabolizantes até sua morte prematura durante uma suposta crise convulsiva enquanto dormia em sua residência na Califórnia aos 38 anos de idade.
Nas últimas décadas o uso dessas substâncias vêem se popularizaram entre os jovens e apesar dos prejuízos médicos e psiquiátricos envolvidos, convivemos hoje com um grande número de adolescentes que inadvertidamente buscam nos esteróides anabolizantes uma maneira rápida e fácil de ganhar músculos.
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