Sei que esse blog tem o objetivo de atualizar a todos sobre as novidades do mundo do autismo, mas algo ocorreu em uma consulta médica que me emocionou e gostaria de compartilhar com vocês. Todos participaram e fizeram sua parte no dia 02 de abril, Dia Mundial da Conscientização do Autismo, mas essa história realmente foi de se destacar.
Recebi essa família que estava voltando para um segundo momento. Já estavam mais afastados das angústias que envolvem os momentos iniciais dos primeiros contatos, pois se beneficiavam de algumas melhoras clínicas, além de estarem envolvidos em maior segurança advinda de conhecimento sobre o que estava realmente ocorrendo com seu filho.
O garoto, com diagnóstico de TEA de alto funcionamento, no ano passado, por suas dificuldades sociais e padrão rígido de comportamento e frequentando ambiente escolar tóxico sem acolhimento e com dificuldades sérias de entendimento de seu problema, logo no ensino fundamental, passa a sofrer muito, desenvolvendo um quadro depressivo ansioso e um sério trauma das relações sociais com os pares. Após estancarmos as feridas das dores morais sofridas e levantarmos sua autoestima para um novo ambiente acadêmico que se iniciou esse ano, ele foi entendendo que a escola poderia ser diferente.
Um dia desses, assistindo a uma reportagem que relatava que uma mãe de um garoto com autismo tinha ficado muito chateado, pois ninguém que havia convidado da turma da escola havia aparecido em seu aniversário, perguntou a sua mãe: “eu tenho autismo?”. A mãe, surpresa com a pergunta, pois nunca havia comentado nada com seu filho, respondeu: “Por que a pergunta, meu filho?”. E ele falou: “Porque no ano passado ninguém veio no meu aniversário”. A mãe ficou muda, com os olhos cheios de lágrimas, não sabia o que dizer, mas tomada pela coragem materna que desejava que seu filho um dia conquistasse para enfrentar suas dificuldades, explicou o que era o autismo, o que ele tinha e que isso não tinha nada a ver com o fato de os garotos não terem ido ao seu aniversário.
Pois bem. Nas vésperas do dia 02 de abril, surpreende-se a mãe com a vontade do filho: que ela mandasse fazer duas camisetas azuis em prol do autismo, uma pra ele e outra para a nova professora, que também tem um filho dentro do espectro. Chegando à escola, o menino foi a sensação, pois ninguém sabia porque ele e a professora estavam com aquela camisa. Todos os colegas ficaram ansiosos porque também queriam uma – além de começarem a fazer inúmeras perguntas sobre o assunto. Embebido pela mesma coragem que sua mãe lhe presenteou no dia anterior, o menino da camisa azul, em meio ao alvoroço, foi à frente da turma e deu uma aula sobre Autismo. Ainda disse que tinha uma forma leve do quadro, mas que os colegas não precisavam se preocupar, pois ele só precisa de ajuda em algumas situações específicas, e que todos nós temos algumas dificuldades que deveríamos enfrentar: usar óculos, aparelho para os dentes…
Após ouvir essa história na consulta, senti que essa família estava fortalecida pelas vitórias que estavam vivendo em conjunto, e não pela lamúria do carma colocado em suas vidas. Devemos nos espelhar neles e buscar as nossas.
Um grande abraço a todos.
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