Você já parou para pensar que “peso” os estereótipos têm em sua vida?
Qual é a importância que você atribui à cada um deles, por exemplo?
E foi justamente uma mensagem, enviada por uma mãe de uma criança com autismo, que me fez refletir de forma mais específica a este respeito. Mensagem esta que me fez, literalmente, perder o sono nos últimos dias, pois a angústia e o sofrimento contidos naquele depoimento eram tão intensos que seria impossível ler aquelas palavras e não ser tocadas por elas.
A pergunta que ela me fez foi a seguinte:
“Em seus textos, você sempre defende que devemos assumir o autismo de nossos filhos, abertamente, sem meias palavras ou subterfúgios. E, muito embora eu concorde com seu ponto de vista, a dúvida que me angustia e me faz temer o futuro é: e se eu assumir a condição do meu filho e isto fizer com que ele fique rotulado para toda vida? Como saberei que ele não será eternamente apontado nas ruas, estereotipado como autista? Você me garante que isso não acontecerá?”
Foi com esta pergunta ecoando em minha alma e meu coração que vivi os dias que antecederam este post. Sim, ela é pertinente e apropriada; assumir publicamente o autismo de nossos filhos é despir-se de quaisquer receios e enfrentar de “peito aberto” as intempéries (preconceitos, bullying, incompreensão, dentre outros). Assumir a condição de nossos filhos, de forma clara e objetiva é, sem dúvidas, oferecer “a cara a tapa”. Entretanto, entendo que seja, igualmente, libertador.
Por outro lado, será que ao assumirmos que nossos filhos têm autismo estaremos contribuindo para que a sociedade lhes impute este rótulo? Será que estaremos condenando nossos filhos a um estigma eterno? Será que sempre que meu filho sair à rua, alguns apontarão e dirão: “lá vai o João. Ele é autista”?
Infelizmente, desde os primórdios, a humanidade tem o triste hábito de rotular as pessoas. A grande verdade é que muitos de nós vivemos uma vida inteira em função deste ou daquele estereótipo.
E estes estão tão intrinsecamente internalizados dentro de nós que, muitas vezes, sequer nos damos conta.
Meu filho foi tachado, inúmeras vezes, inclusive por profissionais da área de saúde, como mimado, mal educado e birrento. Estes “adjetivos” me machucavam, pois eram rótulos injustos, que não correspondiam à realidade.
Como percebi que seria praticamente impossível evitar que meu filho fosse “rotulado”, “optei” que ele fosse “rotulado” então, por uma condição que ele realmente tivesse e não por termos que as pessoas, porventura, resolvessem atribuir a ele.
Infelizmente, rótulos, estereótipos e afins nada mais são do que diferentes formas de aprisionar um ser humano e restringir toda a sua essência.
Particularmente, abomino todo e qualquer rótulo, pois “catalogar” pessoas é CRUEL, injusto e preconceituoso. Cada um de nós é muito mais do que apenas aquilo que se pode ver.
Quanto à pergunta que me foi feita, lamento não ter uma resposta “concreta” a respeito.
Não existem certezas e tampouco posso oferecer garantias de que nossos filhos não serão estigmatizados no futuro, pelo fato de termos assumido sua real condição. Pois a jornada da vida é repleta de incertezas e, ao longo deste caminho, algumas possibilidades se concretizarão, enquanto outras “desaparecerão” no vento.
Posso garantir a você que esta é uma “luta” em que você não está sozinha; estamos todas juntas, no mesmo barco. O tempo, e apenas ele, trará as respostas para as nossas dúvidas.
E enquanto as repostas não vêm, sigamos em frente, fazendo o possível e o impossível por nossos filhos, sempre lembrando que rótulos e estereótipos JAMAIS definirão nossos filhos, ou quem quer que seja.
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