“A verdade é que não sou uma boa mãe. Amo meu filho, mas não consigo ajudá-lo da forma adequada. Ele não evolui porque eu vivo triste, cansada e deprimida. Sei que não tenho culpa por ele ter nascido com autismo, mas sou culpada por ele não melhorar. Me sinto envergonhada em vê-lo se esforçando para vencer suas próprias limitações, enquanto eu já desisti de lutar…”
“Fui uma boa mãe para meus outros dois filhos. Mas não sei porque não estou conseguindo ser uma boa mãe para X. Ele foi tão desejado quanto seus dois irmãos. Me esforço tanto para fazer tudo certo! Mas tudo o que consigo sentir é apenas desânimo e uma tristeza infinita. Quando todos estão na escola, fico o tempo inteiro na cama, chorando. Todos dizem que sou fraca, que ainda não superei o diagnóstico de autismo de X. Isto não é verdade! Eu não apenas superei como aceitei. Será que fracassei como mãe? Sinto uma vontade enorme de sumir, desaparecer.”
“Foram 6 longos anos tentando engravidar, sem sucesso. Quando finalmente fiquei grávida da Y, meu mundo se tornou completo, “cor de rosa”! Nossa pequena filhinha completou nossa alegria. Vivíamos muito felizes. Nem mesmo o diagnóstico de TEA foi capaz de abalar minhas esperanças e fé no futuro. De uns tempos pra cá, porém, vivo infeliz, desanimada. Sinto que perdi a vontade de viver…”
Os relatos acima são reais e são alguns dos muitos que recebi nos últimos dois meses. Em comum, além do diagnóstico de autismo, as mulheres que me enviaram estes depoimentos partilham
também do mesmo mal: depressão.
Estes relatos contêm pedidos “velados” de socorro de mulheres que estão depressivas e que não conseguem enxergar uma “luz no fim do túnel”. Mulheres que, apesar de todo o sofrimento , ainda insistem em se responsabilizar pelo martírio que enfrentam.
Isto acontece, em grande parte, porque impera em nossa sociedade a cultura de que a pessoa com depressão é responsável pelo seu quadro, pois é incapaz de reagir. Estas mulheres também se culpam porque, quando as vítimas da depressão são mães, a situação piora de forma desmedida. Afinal, a maternidade é linda e perfeita, não é mesmo?
Nos vendem a ideia de que mães são sempre felizes e sabem exatamente o que fazer e quando fazer. Mães jamais perdem a paciência e nunca têm medo. Mães não fracassam. Mães não têm vontade de sumir. Mães não desanimam. E tantos outros bla-blá-blás!
Mães são seres humanos. Mães podem passar por tudo isso e muito mais. Atire a primeira pedra aquela que nunca perdeu a paciência. Quem nunca teve vontade de desaparecer, apenas por um instante, para reorganizar as ideias?
Pois é! Neste pedestal onde a sociedade determinou que a mãe deve ser colocada, porém, não há espaço para mulheres de carne e osso, mulheres que erram e que perdem a paciência.
Então, agora, pensemos nas mães que me enviaram os relatos acima e que sofrem diversos julgamentos porque:
– depressão ainda é considerada “frescura” ou “fraqueza” por muitos em nosso país;
– em nossa sociedade impera cultura de que mães são sempre felizes (todo o tempo!) e, portanto, se você não é, o “DEFEITO” só pode ser seu;
– “and last, but not least”, o mais grave de todos os crimes que elas poderiam ter cometido: são “MÃES ESPECIAIS”.
A grande maioria das pessoas considera que mães de pessoas com necessidades especiais são PERFEITAS. Acreditam que estas mulheres tem um quê de santidade, uma aura de resignação e candura, uma sabedoria que ultrapassa limites e fronteiras. E, muitas vezes, este olhar vem acompanhado de uma cobrança, algumas vezes inconsciente, outras nem tanto, de que esta mulher corresponda às expectativas que foram criadas para ela. Todos estes padrões criados pela sociedade aprisionaram e ainda aprisionam mulheres ao longo de décadas, visto que apenas causam frustração e dor a todas aquelas que, porventura (a grande maioria) não se encaixam nestes padrões.
Assim como a ditadura de um padrão ideal e único de beleza tornou infelizes milhares e milhares de mulheres, induzindo inúmeras delas a desnecessárias cirurgias plásticas e aumentando o contingente da população com transtornos alimentares (anorexia e bulimia nervosa), a pressão crescente da sociedade,aliada à cobrança muitas vezes da própria família, faz com que a mãe de uma pessoa com necessidades especiais, mais especificamente autismo, sinta-se cada vez mais triste e frustrada por não “atender” ao que esperam dela.
Cabe ressaltar que não apenas a pressão externa e a cobrança familiar contribuem para o processo de depressão materna. É indiscutível que a condição de seus filhos (autismo) é um fator que gera angústia, ansiedade e receio nestas mulheres. Tomemos o futuro como exemplo: é realmente desesperador pensar no amanhã de nossos filhos quando não mais estivermos aqui. Infelizmente, não é novidade que mães de pessoas com autismo, muitas vezes, podem tornar- se “alvos fáceis” de quadros como depressão, ansiedade, síndrome do pânico e outros distúrbios psiquiátricos.
Se você conhece alguém que está enfrentando uma situação como esta, sinalize que esta pessoa precisa de ajuda especializada. Enquanto esta ajuda não vem, colabore da melhor forma que puder; se não souber o que dizer ou argumentar, apenas ouça suas angústias e desabafos. Bons ouvintes também fazem a diferença na vida da pessoas. E, principalmente, em hipótese alguma: NÃO julgue! Ouça o que for, não critique ou aponte erros. O que esta mulher não precisa é de críticas, ainda que bem intencionadas ou construtivas; pelo menos não neste momento.
Se você está depressiva, não hesite nem mais um segundo em buscar por ajuda médica. Sei que não é nada fácil reconhecer que precisamos de ajuda, quando enfrentamos um quadro como este; e buscar ajuda é o primeiro passo para vencermos. A depressão é considerada o mal do século, porque é dolorosa e devastadora, destrói a alma e deixa o coração em frangalhos.
Contudo, a boa notícia é que a depressão está longe de ser um caminho sem volta. Existem opções de tratamento, tanto na linha terapêutica quanto na linha medicamentosa e quem sofre de
depressão pode e DEVE procurar ajuda.
Lembre-se:
Você merece voltar a viver feliz!
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