O post de estreia deste ano vai abordar uma situação decisiva que vivemos com João Pedro : o momento em que ele , finalmente , descobriu que tem autismo .
Confesso à vocês que por mais de uma dezena de vezes imaginei o momento em que ele receberia a notícia sobre sua condição. Ansiava por este momento e, ao mesmo tempo, temia-o com todas as minhas forças.
Afinal , qual seria sua reação? Sabíamos que era uma questão de tempo , pois as muitas perguntas que vinha fazendo há cerca de quatro anos( “porque vou à Psicóloga ? “porque eu preciso de uma mediadora escolar?” e etc…) demonstravam que ele estava construindo sua própria percepção à respeito e que estava no “caminho da descoberta”.
Conforme foi amadurecendo , o grau de complexidade das indagações foi se tornando cada vez maior , até que ele concluiu que era “diferente” e então , não houve mais perguntas ; ou seja , percebeu-se diferente dos pares e esta conclusão lhe bastou , não tendo ele procurado saber qual era o nome de sua “diferença”.
Paralelo à isso , contudo, cabe ressaltar , que devido ao ativismo que nossa família possui na causa autista , o termo autismo SEMPRE foi falado em nossa casa , inclusive , na presença de nosso caçula. Até mesmo quando lancei o livro “Eu , meu filho e o autismo: Uma jornada inesperada “ , expliquei à ele que era um livro sobre a nossa História, e muito embora ele já se percebesse diferente , eu acreditava que ele ainda não tivesse feito o link entre as duas situações.
O que eu sequer desconfiava é que meu menino estava muito próximo de conquistar uma das mais importantes e significativas fases de sua vida …
No final de julho do ano passado , durante uma sessão com sua psicóloga, ele SIMPLESMENTE mencionou que sabia que tinha autismo e que , por este motivo , às vezes , falava sozinho , andava de um lado para outro e gostava de ficar mais tempo em seu quarto .
Mal pude acreditar que ele já tinha conhecimento de sua condição!!!! E , o melhor foi perceber que a “ficha tinha caído” de forma suave e tranquila !
Seu crescimento foi imenso . Amadureceu à olhos vistos . Até mesmo a adolescência, que vínhamos
enfrentando à duras penas desde o início do ano , deu uma ligeira trégua. Aparentava compreender-se
melhor, em um verdadeiro processo de autoconhecimento.
Entretanto…. Enquanto meu filho assumia sem problemas que tinha TEA , sua saúde física começou a dar sinais de que alguma coisa poderia estar errada : perdeu 6 quilos , em um piscar de olhos , sem que houvesse alterações em sua alimentação .
Ficamos alertas ; mas o sinal vermelho veio quando ele teve a primeira celulite . Sim , eu disse a primeira , pois ele fez mais dois episódios de celulite , quase tendo ficado internado na segunda , um quadro de celulite na mão. Tivemos ainda quadros de alergias e zumbidos no ouvido . Por recomendação dos profissionais que , até então o acompanhavam , decidimos consultar um Imunologista.
Era muito provável que ele estivesse com alguma alteração na imunidade . Exames e mais exames foram realizados e os resultados mostraram que a imunidade dele estava PERFEITA !!! Não havia nada que justificasse aquela série de
acontecimentos ….
Até que uma hipótese surgiu ….
É provável que, muito embora JP tenha reagido bem à notícia, seu organismo tenha “sentido” a informação e levado um tempo maior para processar o turbilhão de sensações pelas quais ele vinha passando .
Lembro que nesta época, ele perguntou se também teria filhos com autismo, até quando seria necessário ter a presença da mediadora escolar em sala de aula, dentre outras perguntas, o que demonstra grande preocupação à respeito e nos mostra o quanto ele vinha pensando sobre o assunto.
Inúmeras vezes , quantos de nós , reagimos bem à determinadas situações e depois inexplicavelmente
acabamos adoecendo , contraindo gripe em cima de gripe, viroses em série, amigdalites, sinusites e
outras ites mais ? E acreditamos ter sido exatamente isso que aconteceu com nosso pequeno grande guerreiro. Ele entendeu e aceitou sua condição, mas , não conseguiu deixar de pensar no que poderia acontecer depois . E isto lhe trouxe angústia e ansiedade , sentimentos que nós, adultos , conhecemos tão bem .
Foram três meses difíceis e turbulentos que , contudo, ficaram para trás.
Inegavelmente , também foram meses de grande crescimento e amadurecimento . Deste episódio , além de tudo que vivemos , fica mais uma lição: não vale à pena antecipar angústias e sofrimentos que sequer sabemos se irão realmente acontecer . Sofri por um momento que jamais aconteceu e , posteriormente , sofri MUITO mais , por uma situação que JAMAIS imaginei que pudesse acontecer com meu filho .
Devemos evitar sofrimentos desnecessários. Portanto , que saibamos viver um dia de cada vez ,
pois o futuro à Deus pertence.
Denise Aragão
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