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Conscientizar é preciso. Desistir, NUNCA foi uma opção!

“Como você se sente ao organizar a 8ª edição da Caminhada Pela Conscientização do Autismo?”

Sentada em frente ao notebook, venho respondendo às perguntas de um trabalho de faculdade que aceitei participar e a indagação acima era a última das muitas que já havia respondido. Claro que sinto-me feliz, penso com “meus botões”.

Entretanto, no exato momento em que vou teclando, as letras e as palavras ganham “vida” na tela do computador, a resposta me soa estranha e, ao mesmo tempo, me assusta; em um ímpeto, deleto a resposta.

Por quê? Porque me sentiria imensamente mais feliz se não fosse necessário organizar nenhuma caminhada (a não ser, claro, a título de lembrança ou comemoração!), pois toda a população e a sociedade civil já estariam conscientizadas a respeito do autismo.

O objetivo destas caminhadas e eventos afins não é apenas conscientizar a sociedade, mas também e PRINCIPALMENTE, conquistar os direitos de nossos filhos.

Seria infinitamente melhor que nossos filhos com autismo fossem devidamente reconhecidos pelo poder público, tivessem seus direitos respeitados e estivessem realmente incluídos na sociedade, como parte efetiva dela, e não alijados deste processo.

Inegavelmente, as pessoas com autismo em nosso país obtiveram pequenas (grandes) conquistas nos últimos anos. Tais vitórias são frutos do trabalho abnegado de mães, pais e familiares, em todo o Brasil, que lutam na esperança de construir um futuro melhor para nossos filhos. Lutamos porque desistir NUNCA foi uma opção!

Assim sendo, preferiria que caminhadas e toda sorte de eventos fossem feitos apenas e exclusivamente com o objetivo de “comemorarmos” as conquistas das pessoas com TEA e ensinarmos às atuais gerações a árdua luta empreendida pelo direito destas conquistas. Apenas e tão somente com o caráter educativo.

Então, olho para trás e vejo o quanto já caminhamos; vislumbro o futuro e percebo o quanto ainda existe há caminhar. Neste momento, João Pedro entra no quarto. Meus filhos conhecem-me como poucas pessoas são capazes de fazê-lo. Sabem interpretar-me como ninguém.

“Está cansada, mamãe?” . “Sim, um pouquinho…”, respondo, tentando disfarçar meu cansaço e a surpresa pelo fato dele ter percebido. “Ah! Mas não se preocupe … amanhã é outro dia! A gente descansa e começa tudo de novo”.

Mal disse isso e saiu apressado. Entretanto, em sua inocência, ele me presenteou com uma frase repleta de sabedoria: a cada dia um recomeço, com forças renovadas e novas oportunidades de fazer diferente.

Novamente, fixo os olhos na tela. Meus dedos teclam sem hesitar a resposta final da última pergunta. “Sinto-me feliz em poder contribuir para o processo de conscientização da sociedade. Continuarei organizando caminhadas e eventos em prol da conscientização do autismo, seja através do Grupo Mundo Azul, ou individualmente, até chegar o dia em que esta data poderá ser apenas lembrada e comemorada e não mais será necessário reivindicar direitos ou lutar por inclusão. E enquanto este dia não chega, vamos em frente e, se estivermos cansados, amanhã será outro dia. Então, a gente descansa e começa tudo de
novo”.

Denise Aragão

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