Autismo para pais

Os pais também precisam de cuidados.

Autismo para os pais

Os pais também precisam de cuidados.

Os cuidados à criança com autismo implicam uma atenção à saúde mental dos pais, uma vez que a instabilidade emocional dos pais pode levar à desestabilização dos seus filhos. O comportamento dos responsáveis pode influenciar o prognóstico do autismo a partir dos primeiros anos da criança até a idade adulta. Ao mesmo tempo, a presença de sofrimento psíquico nos pais pode ter um grande impacto, tanto na dinâmica familiar quanto no comportamento do autista. Por exemplo: o estresse e alterações de humor das mães parecem estar associados a problemas comportamentais na criança.

A preocupação com a saúde mental dos pais se deve ao fato de que muitos estudos mostram que eles têm mais problemas psiquiátricos e emocionais do que pais de crianças típicas. Os pais de crianças autistas podem ter um risco maior de sofrer de transtornos de ansiedade, transtornos de humor e sintomas obsessivos. Os sintomas de ansiedade neles foram relacionados em parte à sobrecarga de cuidar da criança autista. Isso se confirma em estudos que mostram que adultos jovens que cuidam de pessoas com autismo reportaram mais problemas adaptativos e menos bem-estar pessoal do que cuidadores de pessoas com outros diagnósticos. Apesar das demandas de cuidar de uma criança com autismo serem grandes, existem alguns fatores que podem ajudar os pais a lidar com essa situação, tais como o sentimento de auto-eficácia, ou seja, de estar realizando bem as suas funções, o apoio social recebido e um melhor nível educacional.

Nosso grupo de pesquisa realizou um estudo com pais de pessoas com autismo na cidade de Salvador e estimou que 26,7% tinha depressão; 33, 7% tinha ansiedade e 18,9% tinha os dois transtornos. A título de comparação, estima-se que 5% da população geral tenha depressão e 4,5% ansiedade, indicando pois que a prevalência de ansiedade e depressão é bem mais elevada em pais de pessoas com autismo do que na população geral. Nesse mesmo estudo, os sintomas mais graves de ansiedade e depressão foram mais frequentes em pais cujos filhos tinham sintomas graves de autismo. A presença do pai em casa, no entanto, reduziu o risco maior de sintomas de ansiedade e depressão para as mães de crianças com sintomas mais graves. Um outro estudo, realizado em país de primeiro mundo, avaliou pais de adolescentes com autismo ao longo de 10 anos e identificou que em períodos durante os quais os problemas comportamentais da criança eram mais intensos, os sintomas de depressão nas mães também eram mais intensos. O mesmo estudo indicou que os sintomas de ansiedade nas mães eram mais intensos quando a rede de apoio social era menor e quando havia mais experiência de estressores ambientais. A relação conjugal é tida como um fator determinante na qualidade da relação pai-filho, balanceando a sobrecarga emocional em famílias com um adolescente ou adulto com um transtorno do espectro autista.

Concluímos então alguns pontos importantes:

  • Ansiedade e depressão são muito prevalentes em pais de pessoas com autismo.
  • Quanto mais graves os sintomas comportamentais das crianças com autismo, mais intensos os sintomas de ansiedade e depressão nos pais.
  • Fatores ambientais como sentir-se satisfeito, ter a presença do pai e da mãe em casa, possuir apoio social e um melhor nível educacional protegem a saúde emocional dos pais de pessoas com autismo.

 

Milena Pereira Pondé

Psiquiatra, Professora da Escola BAHIANA de Medicina.

 

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