Autismo em diferentes culturas
Existem varios estudos trans-culturais sobre crianças com TEA realizados em contextos extra-ocidentais ou de migração. No Sul do Benin e na Nigéria, em populações Yorubas, crianças que não falam entre dois a quatro anos (algumas vezes até 15 anos) ou que nunca falaram, são chamadas de Abikú (abi significa ‘nascer’ e kú significa ‘morte’). Essas crianças são consideradas capazes de ter relações privilegiadas com os ancestrais e de dialogar com eles numa língua incomprensivél, sendo assim colocadas para além do humano, segundo uma identidade que reflete a percepção da alienação social delas. São essas “crianças ancestrais”, para os Yorubas, que no ocidente denominamos de autistas. A fala incompreensível é considerada como a fala de pessoas que estão em outro mundo e falam através dessas crianças.
Em contexto migratório na França, a percepção do problema da criança autista pelas mães é perpassada de maneira complexa, às vezes contraditória, pelas informações provenientes da mídia, do contexto psiquiátrico e daquelas decorrentes da propria cultura de origem. Cada pessoa opta pela representação etiológica que melhor corresponde aos imperativos dos cuidados disponíveis para a criança. Um dos primeiros estudos sobre o impacto social do autismo nas famílias da Austrália entrevistou 33 pais de crianças autistas. Os pais recorreram a explicações de cunho religioso e psicológico, havendo uma diferença entre a perspectiva dos pais e aquela biomédica sobre autismo. Numa pesquisa em Taiwan, a etiologia médica era citada, sendo comum a referência a causas genéticas. Causas ‘não-naturais’ ou ‘sobre-naturais’ também eram citadas sem conflito pelas mesmas pessoas. Estudo realizado nos Estados Unidos, com pessoas de origem caucasiano-americana ou asiático-americana, revelou que os pais elencavam quatro grupos de causas para o TEA: genética, ambiental, mistura de genética e ambiental, havendo uma proporção menor que não fazia nenhuma ideia sobre as causas do autismo. Um estudo feito no Brasil, entrevistando pais de crianças com TEA, constatou que as mães de crianças com sintomas mais leves eram mais otimistas e enfatizavam as qualidades dos seus filhos, enquanto que as mães de crianças com sintomas mais graves falavam mais sobre as dificuldades dos seus filhos. Em relação à causa, elas acreditam que o autismo tenha uma causa orgânica, mas desconhecem qual seja.
Assim, em diferentes contextos sociais ocidentais, o autismo é visto pelos pais como uma doença orgânica, o que coincide com o conceito médico e desestabiliza crenças que surgiram na década de 1960 culpando as mães pelo autismo dos seus filhos. Essa teoria não é mais válida no contexto biomédico e também já parece não ser referida na imaginação dos pais.
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