Autismo para pais

TDAH como um fator de piora no prognóstico em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Até poucos anos, o autismo era compreendido como um transtorno isolado, ou seja, não era comum que crianças com diagnóstico de TEA recebessem outros diagnósticos neurológicos ou mesmo psiquiátricos.

Contudo, atualmente, entendemos que o TEA pode ser sim uma condição com diversas outras comorbidades e uma das associações mais frequentes é com o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

Recentemente, foi publicado um artigo na revista Pediatrics, intitulado “Anxiety and mood disorder in children with autism spectrum disorder and ADHD” (Ansiedade e transtorno do humor em crianças com TEA e TDAH), que teve como autora principal a Dra. Eliza Gordon Lipkin.

Este artigo é muito interessante pois chama nossa atenção para aspectos importantes no diagnóstico, tratamento e prognóstico de crianças com autismo.

Neste artigo, a Dra. Lipkin compara crianças que apresentavam somente o diagnóstico de autismo (grupo 1) com crianças que apresentavam autismo e TDAH associados (grupo 2). Foi um estudo grande e bem conduzido, envolvendo 3.319 pacientes autistas com idade entre 6 e 17 anos, dos quais 1.503 tinham também diagnóstico de TDAH.

Os resultados desta pesquisa demonstraram de forma bastante clara que o TDAH em indivíduos com TEA aumenta a gravidade dos sinais e sintomas comportamentais e aumenta, significativamente, o risco das crianças autistas desenvolverem transtorno de ansiedade e transtorno de humor com o passar dos anos.

Bom, e por que exatamente isso é importante?

Porque, como sabemos, não há medicações ainda disponíveis para tratamento das manifestações clínicas próprias do autismo, tanto dos sintomas relativos ao comprometimento do comportamento social como do comportamento verbal.

Desse modo, quando optamos por iniciar tratamento farmacológico para uma criança com TEA o que estamos fazendo, na verdade, é somente tratar sintomas específicos, como o comportamento agressivo e a autoflagelação. Mas os sinais e sintomas que definem o comportamento autístico não podem ser revertidos mediante o uso de fármacos.

Com base nos dados do estudo da Dra. Lipkin, devemos estar muito atentos à presença de sinais de TDAH nas crianças com TEA, uma vez que a falta de atenção e concentração pode ser tratada com medicamentos psicoestimulantes específicos e com excelentes resultados. Da mesma forma, devemos estar vigilantes para o surgimento de sintomas de transtorno do humor nestes pacientes, já que estes podem ser controlados ou amenizados com diversos estabilizadores de humor disponíveis atualmente.

A mensagem final que fica é que não devemos nos contentar exclusivamente com o diagnóstico do TEA. Havendo sintomas discordantes ou que surgem no decorrer dos anos, as crianças devem ser reavaliadas com foco nos aspectos neuropsiquiátricos.

 

Referência:

Gordon Lipkin E, Marvin AR, Law JK, Lipkin PH. Anxiety and mood disorder in children with autism spectrum disorder and ADHD. Pediatrics, 2018.

 

 

 

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