Blog

Vamos falar sobre Treinamento Parental?

Um dos mais famosos jornais britânicos publicou recentemente a seguinte frase sobre Treinamento Parental em uma de suas matérias: “A new form of therapy has for the first time been shown to improve the symptoms and behaviour of autistic patients” – salientando que o Treinamento Parental contribui para a melhora dos sintomas e comportamentos de pacientes com Transtorno do Espectro Autista.

E você, já ouviu falar em Treinamento Parental? Já recebeu indicação de algum terapeuta para realizar esse treinamento? Será que existem estudos mostrando que isso realmente funciona ou colabora com as intervenções que pacientes com TEA realizam?

O artigo apresentado hoje foi publicado em abril deste ano e é um estudo clínico randomizado (ECR) focado em problemas alimentares em pacientes com TEA. Esse modelo de estudo, ECR, é uma das metodologias padrão-ouro para a verificação do efeito de uma intervenção/tratamento proposto.

Mas afinal, o que é Treinamento Parental?

O Treinamento Parental (TP) é um conjunto de orientações realizadas pelo terapeuta em sessões com os pais, responsáveis ou cuidadores do paciente em tratamento. Essas sessões podem ser focadas em comportamento, comunicação, psicoeducação ou para fatores específicos como problemas relacionados ao sono, alimentação ou rotinas individuais, por exemplo. A eficácia desse tipo de metodologia está descrita na literatura com resultados positivos, especialmente para pacientes do TEA.

Esse estudo aponta que problemas alimentares podem estar presentes em 46 a 89% dos pacientes com TEA, enquanto apenas 13 a 23% de crianças com desenvolvimento típico apresentam essas mesmas manifestações. Um dos problemas mais comuns desses pacientes é a seletividade alimentar relacionada ao tipo, textura ou apresentação dos alimentos. Esses problemas podem aparecer nos primeiros anos da infância e continuar na adolescência e vida adulta.

Neste estudo, eles selecionaram pacientes com TEA entre 2 e 11 anos de idade, que não estivessem em acompanhamento nutricional ou fazendo uso de suplementos alimentares. A metodologia do estudo dividiu os participantes em dois grupos: um recebeu a intervenção do Treinamento Parental (TP) e o outro aguardou em uma lista de espera (LE).

O grupo de pais que compôs o grupo TP participou de 11 sessões de 60-90 minutos cada e uma visita domiciliar (para que o terapeuta pudesse observar o ambiente familiar). Já o grupo LE precisou aguardar 20 semanas para receber instruções de como realizar o Treinamento Parental e, nesse tempo, tiveram que preencher questionários – esse foi o grupo chamado ‘controle’ para a pesquisa.

Houve participação de uma nutricionista que avaliou não apenas a qualidade de alimentação dos pacientes, mas de todos membros do núcleo familiar. A equipe em cada sessão ofereceu aos pais orientações diretas de como realizar as intervenções em casa, afim de que eles adquirissem habilidades para fazer sozinhos cada aprendizado.

Os pais preencheram um questionário de satisfação e uma checklist de ‘fidelidade’ que mensurava a aderência dos pais às propostas feitas pelos terapeutas. Além disso, foram completados questionários sobre o comportamento e a qualidade alimentar dos pacientes.

Os dois grupos apresentaram valores elevados para os questionários sobre comportamento alimentar, indicando problemas relacionados ao momento da alimentação. O total de 85% das famílias no grupo de TP cumpriu com as 11 sessões propostas e 17 de 21 famílias do grupo LE completaram as 20 semanas sem intervenções, apenas com questionários.

Este estudo concluiu que os participantes do grupo TP, após as intervenções dos pais, melhoram seus comportamentos no momento da refeição, principalmente no item de ‘experimentar novos alimentos’ e ‘ansiedade relacionada ao momento da alimentação’. A maioria dos pais que participaram da pesquisa citaram que recomendariam o TP para outros pais.

Os autores salientam que o envolvimento da família no tratamento dos pacientes com TEA tem um grande impacto nas evoluções dos mesmos. Cada proposta de TP deve ser discutida entre terapeuta e pais, respeitando a singularidade de cada paciente. Atualmente, o TP tem se destacado como um diferencial positivo no tratamento de pacientes com TEA.

 

Referência: Johnson CR, Brown K, Hyman SL, Brooks MM, Aponte C, Levato L, Schmidt B, Evans V, Huo Z, Bendixen R, Eng H, Sax T, Smith T. Parent Training for Feeding Problems in Children With Autism Spectrum Disorder: Initial Randomized Trial. J Pediatr Psychol. 2018 Aug 7. doi: 10.1093/jpepsy/jsy063. [Epub ahead of print] PubMed PMID: 30101320.

Compartilhe:

2025 © Instituto Priorit - Todos os direitos reservados.

Desenvolvido por UM Agência