Embora já possamos encontrar citações a esse respeito há alguns anos, nos últimos dois anos o perímetro cefálico (tamanho da cabeça) de bebês e lactentes vem ganhando grande importância, pois poderia ser um indicador objetivo de risco para a evolução futura do transtorno do espectro autista (TEA).
Estudos realizados com crianças clinicamente diagnosticadas com autismo, e estudos com irmãos de crianças autistas e que evoluíram com TEA, apontam que o perímetro cefálico aumentado no primeiro ano de vida esteve presente em uma parcela considerável destas crianças. Embora os dados científicos ainda não estejam completamente consolidados a respeito desse tema, as evidência atuais sugerem que muitas crianças autistas nascem com o perímetro cefálico dentro da normalidade e que, entre seis e doze meses de vida, haveria um aceleramento de seu crescimento.
Vejam que este crescimento mais rápido da cabeça dos bebês ocorre geralmente antes do surgimento dos primeiros sinais clínicos do TEA, tornando esse dado de grande relevância no auxílio ao diagnóstico.
Sabemos que, de modo geral, o perímetro cefálico é determinado pela velocidade de crescimento do cérebro, e essa velocidade de crescimento determinará o volume final deste órgão.
Estudos de neuroimagem realizados de forma prospectiva com ressonância magnética do encéfalo, demonstram que em uma parcela das crianças autistas, entre seis e nove meses de vida, haveria um aumento acelerado da espessura do córtex cerebral, seguindo (entre 12 e 24 meses) por um aumento global do volume cerebral.
A exata relação entre o perímetro cefálico aumentado nas crianças com TEA e a falha nos mecanismos neurofisiológicos de poda neuronal não está ainda bem estabelecida, embora possa haver uma relação causal.
Aferir o perímetro cefálico é parte obrigatória de toda consulta pediátrica, particularmente nos primeiros 18 a 24 meses de vida.
Como com qualquer outra variável biológica em nosso corpo (como por exemplo nosso peso, altura, pressão arterial, frequência cardíaca etc), existe um perímetro cefálico considerado médio (no qual a maior parte das crianças se encontra) e existe um desvio para cima e para baixo desta média em que o perímetro cefálico das crianças continua sendo considerado normal. Chamamos essa “variação da normalidade” de DP (desvio padrão). Quando medimos o perímetro cefálico, consideramos normal que ele desvie 2 DP para mais ou 2 DP para menos. Quando uma criança tem o perímetro cefálico abaixo do “menos 2 DP”, denominamos esta condição como “microcefalia” e, quando ela tem o perímetro cefálico acima do “mais 2 DP”, chamamos de “macrocrania”.
Perímetro cefálico aumentado, particularmente quando acima do “mais 2 DP” na curva de crescimento, é um indicativo de alteração neurológica e deve ser um dado utilizado para corroborar suspeitas clínicas iniciais de TEA em crianças pequenas, quando ainda muitos sinais e sintomas desta condição podem não estar presentes de forma clara.
Por fim, vale ressaltar que crianças com perímetro cefálico normal e mesmo aquelas com microcefalia, também podem estar dentro do espectro do autismo. Desse modo, o perímetro cefálico não deve ser considerado um critério clínico relevante na ausência de outros sinais e sintomas de TEA.
Dr. Paulo Liberalesso, MD, PhD
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