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Tenho VOZ e tenho VEZ

“Olá, bom dia. Meu nome é João Pedro, eu tenho 15 anos, tenho autismo e tenho direito à prioridade!”

A frase saiu rápida tal qual uma rajada de metralhadora, mas clara o suficiente para que não restasse a menor dúvida ao atendente de que meu filho tinha direito ao atendimento na fila preferencial.

Ficamos surpresos; Meu marido e eu nos entreolhamos admirados com a cena que havíamos assistido! Uma felicidade extrema tomou conta de nossos corações.

“Que legal, filho!”, finalmente conseguimos dizer, quase que ao mesmo tempo, segundos depois de nos recompormos da surpresa.

“Sabe mãe?…”

Neste momento, sua frase foi interrompida pelo atendente que retornava, nos indicando o guichê que deveríamos nos dirigir.

Enquanto seguíamos ao espaço destinado à fila de prioridades da renovação de passaporte, diversas lembranças me vieram à cabeça.

Lembrei as inúmeras situações em que, em meio à filas imensas, exatamente como àquela que nos deparávamos no aeroporto, foi preciso abordar o gerente ou o atendente e falar sobre o atendimento prioritário.

Doeu lembrar os olhares atravessados, os cochichos maledicentes e as caras de reprovação de algumas pessoas das filas.

Recordei também da relutância que alguns estabelecimentos apresentaram no início para se adequarem à lei. Muitas vezes foi preciso conter o nó na garganta e ser firme.

Sem dúvida, foram diversas as ocasiões, durante estes 12 anos pós-diagnóstico, em que lutamos para que nosso filho tivesse seus direitos respeitados.

Direitos estes que são garantidos e assegurados por leis, mas que na grande maioria das vezes precisamos “lutar” para que sejam cumpridos.

Por este motivo, nossa alegria era imensa em ver nosso menino não apenas reproduzindo as falas de seus pais mas, PRINCIPALMENTE, lutando por seus direitos!

Ao chegarmos no guichê, enquanto eu pegava os documentos na bolsa, meu filho terminou a frase que havia sido interrompida minutos atrás:

“Sabe mãe? Você sempre fala que eu tenho direito à prioridade… Mas de agora em diante, eu quero falar. Combinado, mãe?”

“Claro, filho.”

Abaixei a cabeça para que ele não visse uma lágrima  furtiva que rolou pelo canto do olho.

Com o passaporte na mão, tive a sensação de que meu coração ia sair do peito, pois vi nosso menino começando a tomar consciência de seus direitos, e saí de lá com a esperança renovada em perceber que ele  está “soltando”  sua própria VOZ e, quem sabe um dia, também “abra” suas asas para fazer seus próprios   voos sozinho.

 

Denise Aragão, mãe de autista. 

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