Autismo para pais

Problemas com a mastigação e início da seletividade alimentar

Sabemos que a alimentação de crianças com TEA pode ser um desafio. Hoje vamos abordar um outro aspecto que preocupa as mães: a mastigação e o início da seletividade alimentar. A mastigação diz respeito à forma como a criança se comporta em relação à introdução de alimentos pastosos e sólidos na sua dieta, a partir do início do desmame. Muitas mães relatam dificuldades na introdução dos primeiros alimentos. Dois problemas envolvendo a mastigação foram descritos em uma pesquisa realizada com as mães:

A) Algumas crianças engolem os alimentos sem mastigar, ou mastigam muito pouco. Pode haver dificuldades relativas à mecânica da mastigação, gerando uma dependência materna que pode durar muitos anos. A criança pode engasgar muito e engolir os alimentos sem mastigar, levando as mães a pensarem que eles têm dificuldade de mastigar. Outras crianças mastigam muito pouco e as mães consideram que elas não sabem mastigar, ou então que têm preguiça de fazê-lo.

B) Outras crianças engolem os alimentos com muita ansiedade, por isso não mastigam. Em alguns depoimentos, além da dificuldade na mastigação foi descrita uma forma ansiosa e por vezes compulsiva no momento da alimentação. Diante desse comportamento, algumas mães procuram formas alternativas de contornar o problema da compulsão: “Tanto que hoje, talvez seja um erro meu, como ele não consegue controlar eu coloco 2 pratos na mesa. Um é o prato que ele está segurando com o garfo na mão e o outro é o prato de comida dele, e vou colocando garfada por garfada e ele vai pegando garfada por garfada. É a única forma que eu descobri de controlar a alimentação dele”.

Mesmo com as dificuldades relatadas, ao final do primeiro ano de vida a maioria das mães relatam aumento no consumo de novos alimentos oferecidos, mas há crianças com mais dificuldades que podem permanecer até seis anos ingerindo exclusivamente leite e água. Algumas crianças tinham um comportamento alimentar adequando, porém começaram a apresentar mudanças no comportamento alimentar, sem que houvesse um fator desencadeante aparente. De forma sutil, começam a recusar alimentos anteriormente aceitos, a exemplo de frutas, legumes, caroço do feijão e preparações com molho. Há mães que relataram essas mudanças quando nasceram os primeiros dentes, entretanto outras observaram as rejeições aos três ou quatro anos de idade, sem que houvesse um fator desencadeante definido. Durante essa fase foram ressaltados dois aspectos: o início da seletividade alimentar e restrições quanto à consistência das preparações, ocorrendo maior predileção pela forma líquida e pastosa. Uma mãe descreve: “Antigamente ele era apaixonado por melancia, mas hoje ele já não quer. A não ser que eu faça um suco de melancia. Antigamente eu tinha que esconder a melancia, a banana porque se deixasse ele queria comer uma dúzia. Só que hoje ele não quer mais saber e só aceita na vitamina. Tudo de fruta na vitamina e no suco ele permite, mas se for para comer ele não quer.” Mesmo quando a mãe já havia introduzido no cardápio os alimentos sólidos, a exemplo de arroz, feijão com caroço, carne e legumes cozidos e fracionados, com a rejeição da criança por essa refeição o alimento passou a ser liquidificado para ser aceito. Mesmo com o amadurecimento da criança, o mesmo não ocorreu no comportamento alimentar. “Ele fez nove anos semana passada… Então eu não vejo problema dele tomar o mingau, mas a questão é que ele só toma na mamadeira”.

Outras mães, no entanto, afirmam que não ocorreram mudanças significativas na alimentação de seus filhos a ponto de alterar os hábitos, sendo as restrições apresentadas pontuais, tais como: recusa do suco no lanche da noite; enjoou do macarrão comum e prefere o instantâneo; não quer mais tomar vitamina, mas consome a fruta e o leite de forma separada. Uma das mães relatou que o filho, somente na adolescência, passou a restringir algumas frutas. Esses diversos padrões descritos pelas mães, estão em consonância com o que nós enquanto profissionais observamos na clínica. O fato de que algumas crianças fazem mais seletividade alimentar e outras menos nos leva a questionar porque a seletividade existe e como podemos abordar esse problema.

Seguiremos com esse tema ao longo desse semestre.

Cristiane Lázaro – Nutricionista
Milena Pereira Pondé – Psiquiatra

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