Autismo para pais

Desenvolvimento típico e atípico da fala em crianças com TEA (Parte 2)

Embora os marcos para o desenvolvimento da fala estejam bem estabelecidos, como descrevemos anteriormente, a verdade é que não sabemos quantas palavras uma pessoa deve aprender até que se torne fluente em um idioma, porque isso varia na dependência de diversos fatores, como a capacidade intelectual, nível cultural, inserção social e possibilidades de aprendizado a que foi submetido o indivíduo.

Assim, embora existam centenas de milhares de palavras, a verdade é que os adultos utilizam algo em torno de 3 mil palavras para se comunicarem no dia a dia… E saber disso é muito importante quando pensamos em programar o ensino da fala para crianças com TEA, porque não é preciso um vocabulário gigantesco e inatingível para que a criança possa adquirir a capacidade de comunicação verbal efetiva.

Muitos pais se preocupam com a qualidade da pronúncia das crianças autistas pequenas. Mas devemos lembrar que as crianças têm até ao redor dos quatro anos de idade para que o cérebro possa realmente controlar, de forma definitiva, a “motricidade” da fala. Ou seja, pequenas trocas e omissões de fonemas até essa idade fazem parte do desenvolvimento do controle motor da fala.

Logo, assim como uma criança precisa atingir, em média, doze meses para ser capaz de andar sem apoio, ela também precisa atingir algo em torno de quatro anos para falar com perfeição.

É claro que se a criança tem trocas e omissões de fonemas muito significativas ou se essas alterações se mantêm após os quatro anos, o tratamento com profissional da fonoaudiologia é OBRIGATÓRIO.

Um outro aspecto importante é que não basta a criança estar aprendendo a falar… Ela precisa estar aprendendo a entender o que os outros falam. Esses dois fenômenos, os quais denominamos, respectivamente, “fala de expressão” e “fala de percepção”, devem acontecer de forma simultânea e equivalente em um cérebro típico.

Certamente, muitos de vocês já perceberam que diversas crianças autistas são capazes de compreender absolutamente tudo o que dizemos a elas, mas não são capazes de falar praticamente nada… Esse descompasso no aprendizado da fala é relativamente frequente no TEA.

Um dos sinais mais marcantes da alteração da fala em pessoas com autismo certamente é a ecolalia, que corresponde à repetição involuntária de uma palavra ou mesmo de uma frase completa, sem qualquer funcionalidade.

A ecolalia segue sendo um grande mistério para a neurociência, pois não compreendemos, até este momento, quais os mecanismos neurológicos são responsáveis por ela.

Se formos considerar o MOMENTO em que a ecolalia ocorre, podemos classificá-la em “imediata” – caso ela ocorra imediatamente após a fala original ter sido produzida – ou “tardia” – caso ocorra após um período de tempo da fala original. Ressaltamos que esse período de tempo é irrelevante para a classificação, podendo ser minutos, horas ou dias.

Se formos considerar a INTENÇÃO COMUNICATIVA, a ecolalia pode ser classificada em “funcional” – quando há alguma intenção de se comunicar ou transmitir uma informação – ou “não funcional” – quando inexiste a intensão comunicativa –. Neste último caso (ecolalia não funcional), esse fenômeno verbal pode ter “funções” de autoestimulação. Outro aspecto interessante é que a ecolalia tardia pode ser “própria”, quando a criança repete tardiamente conteúdo da sua própria fala, ou “do outro”, quando a criança repete conteúdo da fala de outras pessoas, desenhos animados, comerciais etc.

A identificação e classificação da ecolalia são muito importantes para que o analista do comportamento possa programar os mecanismos que serão utilizados na extinção desse comportamento. Quanto a gravidade, evidentemente, quanto mais frequente, mais disfuncional e mais competitiva for a ecolalia, maior a gravidade.

Um outro aspecto que também é muito observado quando falamos de linguagem no TEA é a capacidade reduzida ou inexistente de a pessoa compreender o discurso oculto, ou seja, muitos autistas são incapazes de compreender o que está por trás do discurso e é justamente por isso que muitas dessas pessoas não compreendem a “fala indireta” e também são incapazes de entender piadas com duplo sentido.

Enfim, os distúrbios de comunicação em pessoas com TEA são extremamente variados. Compreendê-los de forma precisa faz parte de um bom diagnóstico e, consequentemente, de um bom tratamento.

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