Autismo para pais

A influência da família nas escolhas alimentares da criança

Apesar de existir uma tendência por parte do indivíduo autista de ter comportamentos restritos, inclusive no campo alimentar, a influência materna parece ser preponderante em determinar os hábitos alimentares de todo o grupo familiar. Quando as decisões e escolhas maternas se baseiam em opções saudáveis, o reflexo se observa na rotina dietética da criança. As preferências e hábitos alimentares da família são muito próximas dos indivíduos com TEA. “Lá em casa, é muito refrigerante. Sabe o que é ter refrigerante todo santo dia? Todo mundo gosta, mas eu e ele [o filho] somos os mais viciados”. “Acho que ele saiu igual a mim e gosta bastante de frutas como pera, maçã, uva… Compro pão integral… Produtos light, porque meu pai é cardíaco. Já adaptei o café do meu pai para ele também e ele gostou”. As preferências alimentares da mãe e da família refletem na escolha dos alimentos da criança. Algumas mães sugerem que, quando a criança é exposta ao alimento, é mais fácil que ela o aceite, porém, quando o alimento deixa de ser oferecido, a criança recusa. É como se aquele alimento fosse saindo da rotina; como se ele fosse esquecendo e aí vem o processo da recusa. A familiaridade com os alimentos, decorrente da contínua exposição, contribuiu na formação do hábito alimentar de algumas crianças. Alguns pais também, na tentativa de melhorar a ingesta do filho, desenvolvem atividades lúdicas e são insistentes diante das recusas alimentares. “Mas meu marido tem muita paciência com ele e por isso isso ele consegue com que meu filho coma mais alguns alimentos. Ele que fez com que nosso filho comesse pão, dizendo: “Olhe, é gostoso!”. Aí ele experimentou. Nesse processo da alimentação, o pai consegue mais do que eu”.

A atitude da mãe frente a novos alimentos também parece influenciar na alimentação da criança. Algumas mães têm uma postura conformada e outras são proativas diante da recusa alimentar de seus filhos. As mães cujos relatos demonstraram um comportamento mais conformado com o quadro alimentar de seu filho realizavam poucas tentativas de introduzir novos alimentos. Aceitavam mais facilmente as restrições impostas pela criança e adequavam a rotina da família aos padrões alimentares impostos por ela. Diante da recusa do alimento, não havia a tentativa de reintroduzi-lo com outra textura ou apresentação, havendo uma tendência dessas mães de aceitarem a recusa, sem que a criança tenha experimentado o alimento. Outras mães tendem a não aceitar de primeira a recusa e utilizam de atividades lúdicas com os alimentos para aguçar a curiosidade da criança. Essas mães também buscam mais informações e ajuda profissional sobre a alimentação, oferecem novas formas de preparo dos alimentos anteriormente rejeitados e até geram mudanças no seu próprio comportamento alimentar, tentando assim estimular a criança. Logo, embora as características comportamentais relacionadas ao TEA possam estar associadas a comportamentos alimentares peculiares, as preferências alimentares da família parecem também influenciar na seleção dos alimentos.

 

Cristiane Lázaro – Nutricionista

Milena Pereira Pondé – Psiquiatra

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