Nascida em Kiev, na Ucrânia (1891-1981), de origem judaica, Grunya Efimovna Sukhareva publicou, em 1926, em uma revista científica Alemã, uma descrição detalhada de casos do que chamamos hoje de autismo. Esses relatos foram baseados em observações que a médica fez em seis garotos, durante o período de dois anos, na escola terapêutica para crianças com problemas psiquiátricos, no departamento de psiconeurologia infantil, em Moscou. Ela descreveu uma psicopatia esquizoide, conforme a classificação de Eugen Bleuler e Ernst Kretschemer. Em publicação posterior, ela substituiu o termo psicopatia esquizoide por psicopatia autística, se referindo ao termo usado por Bleuler para definir a característica de auto-centramento presente na esquizofrenia.
Sukhareva lutou pelos direitos das crianças, defendendo que as crianças com dificuldades deveriam ser encaminhadas para instituições médicas e não para campos de trabalho. Ressaltando a importância do processo de aprendizagem para o desenvolvimento infantil, fundou em 1921 uma escola para crianças com problemas psiquiátricos no departamento de psiconeurologia em Moscou. Na escola terapêutica, as crianças participavam de atividades como ginástica, desenhos e artesanato. Essas atividades facilitavam a posterior inserção das crianças em escolas regulares, o que indica a importância apontada pela médica do processo pedagógico como instrumento terapêutico, da mesma forma que fez Theodor Heller em Viena.
Em 1935 ela fundou a faculdade de Psiquiatria Pediátrica, em 1938 dirigiu uma clínica de psicose infantil na Rússia e por muitos anos trabalhou no Hospital Psiquiátrico de Kashchenko, em Moscou. Sukhareva apontava para a importância dos fatores sociais e familiares na gênese dos transtornos mentais na infância e adolescência.
Além disso, teve um papel tão importante na psiquiatria infantil na Rússia, quanto Leon Kanner teve nos Estados Unidos. O conhecimento sobre a contribuição da médica ucraniana na história do autismo resulta da publicação da tradução do seu estudo de 1926 de casos de Psicopatia esquizoide em meninos, feita por Sula Wolff. A tese de doutorado de Charlotte Simmonds, chamada “G. E. SUKHAREVA’S PLACE IN THE HISTORY OF AUTISM RESEARCH: CONTEXT, RECEPTION, TRANSLATION”, traz a inédita tradução dos relatos de caso de psicopatia esquizoide em meninas, publicado em 1927, além das diversas influências intelectuais que alimentaram o aprendizado de Sukhareva. Essa tese pode ser acessada livremente, em sua integralidade, numa busca pela internet.
Assim, indicamos os ensinamentos dessa importante psiquiatra, que já preconizava a escola como instrumento terapêutico fundamental para as crianças com autismo.
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