No dia 06 de outubro, comemoramos o Dia Mundial da Paralisia Cerebral!
Essa comemoração teve início em um movimento ocorrido na Austrália há alguns anos, envolvendo pessoas com paralisia cerebral (PC), seus familiares e algumas organizações não governamentais, com o objetivo de gerar uma ampla conscientização social e ampliar os mecanismos de inclusão.
Nós, que lidamos no dia a dia com crianças com PC, sabemos bem como a falta de informação de boa qualidade pode ser perigosa, gerar preconceito e levar ao aumento da exclusão.
É muito comum que as pessoas confundam o termo PC com deficiência mental e até mesmo com atraso do desenvolvimento. Então vamos falar um pouco a respeito da PC para que possamos compreender sua definição, suas causas e sua possível relação causal com o transtorno do espectro autista (TEA).
Não sabemos exatamente quando a PC foi descrita pela primeira vez. A maioria dos autores considera que Willian John Little teria sido o primeiro a relatar um caso de PC na literatura médica. Little foi um médico nascido em Londres, em 1810, que, embora tivesse uma excepcional capacidade linguística, nascera com uma alteração nos pés. Até hoje não sabemos se essa alteração em seus pés fora decorrente de poliomielite ou de uma malformação congênita (pé torto congênito). Em 1843, este médico descreveu a PC como uma alteração espástica, provocando rigidez muscular. Somente em 1862 ele descreveria a PC com mais detalhes e a relacionaria com “problemas ocorridos no parto e prematuridade”.
À luz da neurociência atual, PC pode ser definida como uma “encefalopatia crônica não evolutiva da infância, decorrente de lesão permanente do tecido cerebral ocorrida no início da infância e clinicamente caracterizada por rigidez muscular (aumento de tônus) e perda de força”. Outros sinais e sintomas podem estar presentes, embora não de forma obrigatória para o diagnóstico – como distúrbios do movimento, alteração do equilíbrio e alterações sensoriais. É comum que pessoas com PC também apresentem transtorno do desenvolvimento intelectual (deficiência intelectual).
Se observarmos cuidadosamente a definição de PC, podemos perceber que, para firmarmos esse diagnóstico, o único sinal obrigatório é o COMPROMETIMENTO DO SISTEMA MOTOR decorrente de lesão cerebral. Como nós sabemos que o controle do sistema motor em nosso cérebro está localizado em nossos lobos frontais, isso equivale a dizer que, para termos um diagnóstico de PC, temos que ter uma lesão predominantemente frontal.
Bom, é exatamente nesse ponto que eu queria chegar…
Nós também sabemos que nos lobos frontais direito e esquerdo e nas profundezas dos lobos temporais encontram-se os mais importantes circuitos de controle comportamental dos seres humanos. Por exemplo: nossa capacidade de julgamento crítico, nossas percepções a respeitos de conceitos éticos e morais, bem como nossa capacidade de controle de impulsos primitivos dependem do bom funcionamento do córtex pré-frontal. Devemos lembrar, ainda, que grande parte de nossos neurônios-espelho se encontram distribuídos nos lobos frontais.
Logo, é fácil compreendermos que lesões que envolvam os lobos frontais, além de provocarem a PC, também podem alterar a evolução de nosso comportamento. E é justamente por esse motivo que essas duas condições, a PC e o TEA, podem coexistir nas crianças.
Mas aí surge um grande problema… Se o diagnóstico do autismo em crianças pequenas já pode ser complexo, quando falamos de uma criança pequena com PC esse desafio é multiplicado inúmeras vezes.
É comum que os médicos atribuam todos os sinais e sintomas observados nas crianças com PC à própria lesão da área motora primária, mas isso nem sempre é verdade. Quando avaliamos cautelosamente grandes grupos de crianças com PC, podemos perceber que elas apresentam um risco consideravelmente maior para comorbidade com autismo.
Vale lembrar que a lesão primária que causa a PC está localizada predominantemente na área motora, de modo que manifestações atípicas, como a alienação do comportamento, esquiva e fuga de olhar, tendência ao isolamento e síndromes hiper ou hipo sensoriais, não fazem parte da descrição clássica dessa encefalopatia.
Enfim. Esse breve texto serve como um alerta às pessoas que trabalham ou convivem com crianças com PC: caso a criança apresente comprometimento significativo na interação social e atraso no desenvolvimento dos comportamentos teoricamente aprendidos por imitação nos primeiros anos de vida, devemos sempre pensar na possibilidade da associação entre essas duas condições muito prevalentes, a PC e o TEA.
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