Milena Pereira Pondé
(Psiquiatra, professora da Escola BAHIANA de Medicina e Saúde Pública)
O tratamento do autismo é centrado em intervenções psicossociais e pedagógicas, que auxiliam na independência e melhor adaptação social. Porém, além das intervenções voltadas para a estimulação de crianças com autismo, deve-se investir em intervenções que favoreçam a aceitação da diferença por parte de segmentos sociais, promovendo assim uma inclusão social mais efetiva. Atualmente, a indicação do tratamento farmacológico para o transtorno do espectro do autismo se centra, sobretudo, na busca de melhorar a condição comportamental e clínica, para que a criança possa estar mais apta a participar das atividades de estimulação propostas para cada caso específico, no tratamento multidisciplinar.
Nos últimos anos, tem sido crescente a quantidade de ensaios clínicos tentando encontrar medicações que interfiram diretamente na melhora dos sintomas centrais do autismo, bem como dos sintomas associados. Pesquisando no principal indexador de revistas médicas, o Medline, verificamos que em 2018 constavam 61 ensaios clínicos feitos em pessoas com autismo, sendo que em 2019 esse número cresceu para 296. Esse resultado indica o crescente interesse e busca de possibilidades terapêuticas para um transtorno cuja prevalência parece aumentar muito nas últimas décadas.
Dividimos o tratamento farmacológico no autismo em dois grandes grupos:
– Primeiro, as medicações que são usadas para o tratamento de sintomas ou doenças que são frequentemente associadas ao autismo, tais como epilepsia, insônia, heteroagressividades, auto-mutilação, agitação psicomotora, depressão, déficit de atenção, hiperatividades, comportamento disruptivo e ansiedade.
– Segundo, as medicações que vem sendo testadas para avaliar o seu efeito no tratamento dos sintomas centrais do autismo, buscando melhorar a comunicação verbal, a socialização e reduzir os comportamentos repetitivos.
Para o primeiro grupo, a risperidona e o aripiprazol são as medicações mais estudadas. Os ensaios clínicos indicam efeitos benéficos dessas duas medicações na melhora da irritabilidade, agressividade (auto e hetero) e agitação psicomotora. Apesar desses benefícios, alguns efeitos colaterais restringem o uso mais amplo desses fármacos. A risperidona pode causar queda de pressão arterial; aumento excessivo do apetite, com consequente ganho de peso; aumento da prolactina, podendo levar a aumento do tamanho das mamas; rinite, com dificuldade de respiração e sonolência.
O aripiprazol pode, paradoxalmente, em alguns casos, piorar a agitação e causar insônia; há menos risco do que a risperidona de ganho de peso, porém estudos recentes indicam que o aripiprazol também leva ao aumento do peso a médio e longo prazo. Diante da realidade de medicações que beneficiam por um lado, mas trazem preocupantes efeitos colaterais de outro, buscamos sempre o ideal de medicações com um perfil de efeitos colaterais o menor possível.
No próximo mês, falaremos sobre o uso da Cannabis no tratamento do autismo.
2024 © Instituto Priorit - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por UM Agência