Milena Pereira Pondé – psiquiatra, professora da Escola BAHIANA de Medicina e Saúde Pública.
Sabemos que a base do tratamento do autismo, que chamarei, de agora em diante, de TEA (transtorno do espectro do autismo), são as intervenções psicossociais e pedagógicas, que auxiliam na melhor adaptação social e independência da pessoa com autismo. Outro aspecto crucial é o cuidado e orientação aos pais, que são certamente a base mais importante da estimulação precoce e acompanhamento do desenvolvimento. TEA não é uma doença, trata-se de um neurodesenvolvimento atípico ou fora do padrão. Então, antes de mais nada: “não existe cura onde não há doença”. O TEA, como todo neurodesenvolvimento atípico, pode estar acompanhado de sintomas muito desafiadores, que precisam ser enfrentados, buscando uma melhor adaptação da criança. Alguns desses sintomas podem exigir intervenção de medicações psiquiátricas: agitação psicomotora, hiperatividade, auto e hetero-agressão, irritabilidade, impulsividade, compulsões e estereotipias, dentre outros. Não existem tratamentos milagrosos, existem medicações que ajudam a controlar esses comportamentos, permitindo então que as intervenções psicossociais e pedagógicas sejam melhor implementadas. Muitas crianças e jovens não respondem bem às opções mais conhecidas, já citadas no artigo anterior. A Cannabis Medicial surge como opção.
A Cannabis foi usada medicinalmente em várias culturas, mas teve o uso proibido no mundo ocidental, quando passou a ser considerada droga de abuso. Na década de 1960, um pesquisador Israelense, Raphael Mechoulam, começou a estudar a estrutura química da Cannabis, tendo identificado inicialmente o componente psicotrópico, o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), que se liga a receptores que fazem parte do nosso sistema nervoso central, que são os receptores canabinoides (CB1 e CB2). Na década de 1970, um outro canabinoide, chamado canabidiol (CBD), foi identificado e reconhecido que interfere nos efeitos do THC. Pesquisadores em farmacologia e psiquiatria (Zuardi, Tufik, Karniol, Carline e outros) realizaram estudos na década de 1980 no Brasil, que indicaram que o CBD pode ter efeito farmacológico benéfico da redução de sintomas de ansiedade. Estudos de segurança em voluntários normais, por sua vez, indicaram que a administração aguda e crônica por via oral do CBD não produziu efeitos adversos significantes, indicando ser um composto seguro para ser usado em seres humanos, numa faixa ampla de dosagem. Estudos clínicos mostram que o CBD é útil no tratamento da ansiedade, em doses de 2 a 5 mg/dia. O THC também tem sido estudado pelo seu efeito antidepressivo e melhora de dor crônica, como na fibromialgia. A partir de 2013, algumas publicações científicas têm sugerido que os canabinoides podem ser úteis no tratamento do autismo. Em 2018 e em 2019, foram publicados estudos científicos provenientes de Israel, mostrando que o uso do óleo do canabidiol ajuda a reduzir sintomas como hiperatividade, irritabilidade, ansiedade, agitação e insônia em pacientes com autismo.
Nas próximas publicações neste blog, falarei com mais detalhes a respeito das pesquisas científicas sobre cababinoides e autismo, bem como sobre os estudos clínicos.
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