Paulo Liberalesso, Ivanna Vozivoda Salvan Garcia, Adriele Barbosa Paisca.
Embora ainda seja um conceito em franca evolução, podemos entender por Comunicação Alternativa Aumentativa (CAA) um grande conjunto de estratégias, métodos e ferramentas com potencial para aumentar a capacidade comunicativa em pessoas que não conseguem, de forma funcional e eficaz, utilizar a comunicação verbal.
A comunicação é, certamente, uma das mais poderosas ferramentas para o estabelecimento e manutenção dos relacionamentos sociais. Poderíamos dizer até que a comunicação é a base dos relacionamentos sociais. Mas “comunicação” não é sinônimo de “fala”.
Evidentemente, a fala é o ápice do desenvolvimento da comunicação interpessoal, pois torna rápido e preciso o processo de transmissão e recepção de informações. Já a comunicação é um processo muito mais amplo e complexo, que nos permite trocar informações por meio de fala, linguagem e mecanismos não-verbais como gestos, movimentos corporais, toques, olhares e escrita. Assim, fica fácil compreender como é possível se estabelecer uma comunicação efetiva sem dizer nenhuma palavra.
Intervenções adequadas darão à maior parte das crianças no Transtorno do Espectro Autista (TEA) uma fala funcional. Mas há uma parcela considerável delas que não atingirá esse nível de desenvolvimento. É justamente nesse cenário que podemos implementar programas de CAA.
Atualmente, a CAA pode ser utilizada em uma grande gama de situações clínicas, sendo um recurso muito importante no manejo de crianças no TEA. Há muitas crianças com deficiência intelectual e paralisia cerebral que, embora tenham intenção comunicativa, apresentam barreiras que impedem a aquisição normal da fala. Para estas, também é indicada a CAA.
Até alguns anos atrás, acreditava-se que a implementação da CAA pudesse comprometer definitivamente o surgimento e o desenvolvimento da fala, quando na verdade é o contrário: a implementação de programas bem estruturados de Comunicação Aumentativa aumenta a chance de a criança desenvolver fala no futuro!
É justamente por isso que o termo Comunicação “Alternativa” tem sido cada dia menos utilizado, pois ela não é, necessariamente, uma substituta da fala. Temos utilizado outros termos mais apropriados como Comunicação Aumentativa, Suplementar ou Ampliada.
A CAA tem um papel importantíssimo na inclusão escolar. Muitos alunos atípicos enfrentam extrema dificuldade para serem socialmente incluídos no ambiente escolar, justamente devido às dificuldades de fala e comunicação. Desse modo, estabelecer um canal efetivo de comunicação entre a criança e a comunidade escolar, mesmo que não-vocal, é imprescindível.
O desenvolvimento da comunicação funcional tem um enorme impacto sobre o comportamento global da criança, reduzindo inclusive comportamentos agressivos e de autoflagelação.
Ao escolher quais instrumentos serão utilizados para a implementação da CAA, o ideal é que o aluno seja avaliado por uma equipe transdisciplinar, já que esta escolha depende, além da avaliação de questões comunicativas propriamente ditas, de aspectos relacionados à cognição, como o estágio de desenvolvimento da motricidade (fina e ampla) e acuidades auditiva e visual. Para que a CAA tenha sucesso, o aluno também necessita de determinados pré-requisitos, exatamente da mesma forma que ocorre com a aquisição e desenvolvimento da fala. Caso o aluno não apresente estes pré-requisitos, estes precisarão ser ensinados antes da introdução desta modalidade comunicativa.
Após esta avaliação inicial, é preciso definir se a CAA ocorrerá “com apoio” ou “sem apoio”, o que dependerá das características de cada criança. Uma comunicação “com apoio” ocorrerá por meio da utilização de instrumentos como placas com figuras, imagens, fotografias, tablets e computadores. Já na CAA “sem apoio”, o aluno utilizará recursos próprios de seu corpo como gestos, língua de sinais, piscar de olhos e outros. Na comunicação “sem apoio”, o aluno não necessita da intervenção de outra pessoa e nem de qualquer equipamento para estabelecer a comunicação.
O tema “comunicação alternativa” é regularmente associado ao PECS, o sistema de comunicação por troca de figuras, desenvolvido nos Estados Unidos em 1985 por Andy Bondy e Lori Frost. Os protocolos de ensino do PECS são fortemente baseados na ABA – Análise Aplicada do Comportamento e no livro “Comportamento Verbal” de B. F. Skinner (1957). Desse modo, no PECS, estratégias de reforço pretendem obter uma comunicação o mais independente possível.
Após mais de 30 anos, o sistema de comunicação por troca de figuras é atualmente utilizado em todo o mundo por alunos com as mais diferentes deficiências motoras, cognitivas, intelectuais e comportamentais. Os resultados desta modalidade de CAA estão cientificamente documentados e as evidências permitem sua indicação em crianças no TEA cuidadosamente selecionadas. Contudo, não devemos nos restringir à comunicação por troca de figuras! É importante lembrar que há diversos equipamentos digitais e softwares disponíveis no mercado para pessoas que necessitam de comunicação ampliada.
Um último aspecto importante é que quando instituímos um mecanismo de CAA para um aluno utilizar dentro do ambiente escolar, alunos, professores e outros profissionais da escola também devem ser instruídos a respeito de como utilizar o mecanismo e se comportar frente à criança que utiliza a CAA.
Ao contrário do que muitos podem imaginar, a grande maioria das crianças se adapta bem e aprende rapidamente a utilizar as ferramentas para a comunicação ampliada, se tornando mais independentes e abertas para a socialização.
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