O sono está envolvido em importantes processos do desenvolvimento, como a aprendizagem, a consolidação de memória e o manejo do estresse. O mundo científico ainda tem muito a nos contar sobre o sono, com diversos aspectos ainda desconhecidos. Muitos pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresentam dificuldades relacionadas ao sono como, por exemplo, insônia, dificuldade para “pegar” no sono e agitação noturna, entre outras. A qualidade do sono, seja de adultos ou crianças, com ou sem TEA, não é definida por um único fator, mas sim por uma combinação deles, inclusive comportamentais.
Para os pacientes com TEA, a falta de sono ou problemas relacionados a ele podem exacerbar determinados comportamentos. Nos últimos anos, muito tem se estudado sobre a possibilidade do uso da melatonina para crianças com TEA e distúrbios do sono. A melatonina é um hormônio envolvido no ciclo sono vigília, este hormônio é produzido por diversas partes do corpo, principalmente pelo cérebro. De 2017 até o presente momento, duas meta-análises1 foram publicadas divulgando evidencias sobre a melatonina e pacientes com TEA.
Cuomo et al, 2017 avaliou 8 revisões sistemáticas com o objetivo de quantificar a eficácia de diferentes intervenções para o sono de pacientes com TEA: terapia com melatonina, tratamentos farmacológicos além da melatonina, intervenções comportamentais, programas de educação / educação para pais e terapias alternativas, comoterapia de massagem, aromaterapia e suplementação de multivitamínicos e ferro. Essas oito revisões foram baseadas em 38 estudos originais e abordaram a eficácia de intervenções em 17 domínios de problemas do sono. Os resultados apontaram que nenhuma intervenção única é eficaz a todos os problemas de sono em crianças com TEA. No entanto, a melatonina, as intervenções comportamentais e as intervenções nos programas de educação / educação dos pais parecem ser as mais eficazes para melhorar vários domínios dos problemas do sono em comparação com as outras intervenções.
Parker, 2019: Este artigo incluiu não apenas ensaios clínicos randomizados2, mas também avaliou bancos de dados abertos e literatura cinza3. No total, 13 estudos foram avaliados, todos com uso da melatonina oral. Houve um aumento no tempo total de sono relatado por quem usou a melatonina em relação aos que usaram o placebo4: aproximadamente, 29 minutos.
Este estudo registrou poucos efeitos colaterais pelos pacientes que usaram melatonina.
Cabe salientar que intervenções comportamentais que cuidem da higiene do sono são de extrema importância para melhorar a qualidade do sono: uma rotina organizada, que anteceda a hora de dormir; diminuição de tempo de exposição a telas; e um ambiente confortável podem ajudar no sono das crianças. O uso de medicamentos não deve ser a primeira opção e nem feito sem indicação médica.
1: Metanálise é uma técnica estatística utilizada para comparar resultados, de dois ou mais estudos independentes, com a mesma questão de pesquisa.
2: Ensaios clínicos randomizados são estudos onde os participantes são distribuídos em diferentes grupos, de forma aleatória, para diferentes intervenções / tratamentos.
3: Literatura cinza é definida como aquela informação sem uma fonte fidedigna, publicada sem uma revisão detalhada, com uma bibliografia incerta ou duvidosa.
4: Placebo é qualquer substancia sem efeito, considerado um tratamento ou procedimento inerte.
Referências:
Cuomo BM, Vaz S, Lee EAL, Thompson C, Rogerson JM, Falkmer T. Effectiveness of
Sleep-Based Interventions for Children with Autism Spectrum Disorder: A
Meta-Synthesis. Pharmacotherapy. 2017 May;37(5):555-578. doi: 10.1002/phar.1920.
Review. PubMed PMID: 28258648.
Parker, A., Beresford, B., Dawson, V., Elphick, H., Fairhurst, C., Hewitt, C., Scantlebury, A., Spiers, G., Thomas, M., Wright, K. and Mcdaid, C. (2019), Oral melatonin for non‐respiratory sleep disturbance in children with neurodisabilities: systematic review and meta‐analyses. Dev Med Child Neurol, 61: 880-890. doi:10.1111/dmcn.14157
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