Autismo para pais

A Cannabis medicinal no tratamento do autismo

Milena Pereira Pondé – Psiquiatra

A canabis possui vários compostos ativos, sendo o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD) os principais. O THC ativa o chamado sistema endocanabinoide no sistema nervoso central, afetando o apetite, ansiedade, função cognitiva e memória; enquanto o CBD tem efeito ansiolítico, anti-inflamatório, anti-emético e anti-psicótico. A partir de 2013, alguns estudos sugeriram que o sistema endocanabinoide pode estar envolvido na sintomatologia do autismo. No autismo existe um desbalanço entre a ação excitatória e inibitória da neurotransmissão gabaérgica e glutamatérgica, em diferentes estruturas cerebrais. Sabe-se que o sistema endocanabinoide está envolvido na regulação da neurotransmissão gaba e glutamatérgica. Ainda não se sabe exatamente o mecanismo pelo qual a canabis atua no autismo, mas alguns estudos sugerem que o sistema endocanabinoide pode estar desregulado em pessoas com autismo. O mecanismo de ação possivelmente envolva a regulação da neurotransmissão gabaérgica e glutamatérgica.

Em 2007 houve em Israel a aprovação do uso medicinal da cannabis para sintomas paliativos e, em 2014, para tratar epilepsia. Após observar os resultados do tratamento com a canabis em sintomas como ansiedade, agressão, pânico, birra e auto-agressão em crianças com epilepsia, os pais de crianças autistas com sintomas severos passaram a ver na Canabis uma chance de melhora dos sintomas comportamentais.

Duas publicações apareceram em 2018 e 2019 a partir de estudos feitos em Isarel, sugerindo que o CBD pode ter um efeito benéfico em alguns sintomas do autismo. Um estudo publicado em 2019, por Barchel e colaboradores, usou a dose diária de 16 mg/kg de CBD e 0,8 mg/Kg de THC. Esse estudo avaliou o uso em 53 paciente com autismo, com idade entre 4 e 22 anos, usando o fármaco entre 30 dias e 18 meses. Nesse estudo houve relato de melhora importante dos sintomas de hiperatividade, auto-agressão e insônia. Não houve efeitos colaterais com frequência, sendo o mais comum a sonolência e redução do apetite.

Estudo de Mechoulan, publicado em agosto de 2018, relata, em 85% das pessoas com autismo tratadas por um período de seis meses, melhora importante dos sintomas. Também nesse estudo o fármaco foi bem tolerado, com poucos efeitos colaterais. Mais estudos serão necessários para investigar o perfil de crianças com TEA, que podem se beneficiar no uso do CBD, o que deve já estar sendo feito em vários centros, na busca de novas alternativas de tratamento para um TEA, buscando compostos com menos efeitos colaterais em relação às medicações psiquiátricas tradicionais.

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