A importância do treinamento das AVDs no transtorno do espectro autista
Desde a publicação, no ano de 1987, do clássico e pioneiro artigo do Professor Ivar Lovaas intitulado “Behavioral treatment and normal educational and intellectual functioning in young autistic children”, a respeito da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) no tratamento de crianças com autismo, a ABA consolidou-se como parte fundamental na terapia destes pacientes. Os estudos iniciais do Professor Lovaas foram reproduzidos incontáveis vezes em pesquisas com metodologia científica consistente, de modo que nos dias atuais é indiscutível a eficácia de intervenções baseadas nos princípios da análise do comportamento não só no transtorno do espectro autista (TEA) mas também em diversas outras condições neurológicas e psiquiátricas que cursam com comprometimento do desenvolvimento da comunicação, da linguagem falada e do comportamento social.
Contudo, o comportamento humano é extremamente complexo e variável, mesmo entre indivíduos da mesma família, com cultura e educação semelhantes. Deste modo, a elaboração de programas de tratamento individualizados que respeitem as particularidades e necessidades especiais de cada indivíduo deve ser considerado um norteador na condução terapêutica de crianças com TEA.
Recentemente, pesquisadores da Universidade de Atenas (Grécia) publicaram um artigo de metanálise intitulado “The effectiveness of applied behavior analytic interventions for children with Autism Spectrum Disorder: A meta-analytic study” no qual analisaram a eficácia da ABA em crianças com TEA considerando três domínios principais: (a) coeficiente de inteligência obtido por testes padronizados verbais e não verbais; (b) desenvolvimento da linguagem receptiva e expressiva e (c) comportamento adaptativo.
Para a realização desta pesquisa, os autores analisaram criticamente 29 artigos previamente selecionados e, ao final, concluíram que os programas ABA são moderadamente a altamente eficazes e trazem benefícios consistentes nos domínios do desenvolvimento que foram analisados. Os programas ABA foram considerados altamente eficazes na melhoria das habilidades intelectuais e moderadamente eficazes na melhoria das habilidades de comunicação (linguagem expressiva e receptiva) e na melhoria do comportamento adaptativo. Contudo, os programas de intervenção ABA tiveram baixa eficácia na melhoria das habilidades referentes às atividades de vida diária (AVDs).
Este último aspecto, que trata das AVDs, precisa ser observado com muita atenção, uma vez que a independência (parcial ou completa) das crianças para as atividades do dia a dia (como escovar os dentes, tomar banho, vestir-se, calçar sapatos, utilizar talheres, entre tantas outras) é um aspecto considerado essencial para a maior parte das famílias.
Sabidamente, muitas crianças com TEA apresentam comprometimento de uma capacidade neurológica que denominamos “funções executivas”, o que dificulta muito o aprendizado, planejamento e execução de quaisquer atividades que requeiram sequências padronizadas de ações, como por exemplo “amarrar o cadarço de um tênis”.
Deste modo, a presença de um profissional na equipe terapêutica interdisciplinar que esteja capacitado para o treinamento das AVDs é fundamental no sentido de propiciar independência em todos os ambientes, tanto em casa como na escola e nas mais diversas situações sociais da vida da criança.
Referências
Lovaas OI. Behavioral treatment and normal educational and intellectual functioning in young autistic children Journal of Consulling and Clinical Psychology 1987; 55(1): 3-9.
Makrygianni MK. et al. The effectiveness of applied behavior analytic interventions for children with Autism Spectrum Disorder: A meta-analytic study. Research in Autism Spectrum Disorders 51 (2018) 18-31
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