Autismo para pais

As restrições alimentares no autismo

Em pesquisa feita com mães de crianças e adolescentes com autismo, identificamos a referência a muitas restrições alimentares.

Alguns tipos de alimentos são totalmente rejeitados pelas crianças, como os folhosos e os temperos que são acrescentados aos alimentos, tais como cebolinha, salsa, tomate, pimentão e cheiro verde. Existe também uma recusa ativa a verduras e legumes, principalmente quando oferecidos crus. Entretanto, apesar disso, algumas crianças aceitam a batata e a cenoura cozidas ou a batata na forma de purê. O peixe também é recusado com muita frequência, independente da forma de preparo. A maioria também não come fruta nenhuma ou aceita poucas.

Algumas mães relatam uma grande seletividade e especificidade em relação aos alimentos: “Ele é bem seletivo. Até chegar a uma marca que ele gostasse, eu comprei várias… O pão de milho é com manteiga; o pão de forma é com queijo quente e o pão de sal é com ovo frito. Não posso mudar”. Outra mãe diz: “A sopa é liquidificada e peneirada… Carne só frita e tem que estar toda da mesma cor. Pão é a mesma coisa… Se ficar com a borda dourada, ele não come. Prefere os biscoitos crocantes e escolhe no pacote os que possuem a cor mais clara.”

Existe também referência de restrição relacionada à textura. Há crianças que não comem purê, mas comem a verdura amassada junto com feijão; há crianças que não comem alimentos “melados”, como brigadeiro. Outras crianças recusam alimentos sem caldo ou molho, como carne só sob forma de churrasco. Existe a referência de crianças que passam a comer determinados alimentos de forma repetida: macarrão sem molho, lasanha e pizza ou arroz e feijão.

As restrições relacionadas à textura e ao cheiro dos alimentos sugerem que a sensibilidade sensorial interfere na seletividade e até mesmo na recusa alimentar. Em algumas crianças, a sensibilidade pode chegar a ponto de provocar náusea e vômito, quando determinado alimento é tocado ou percebido na boca. Não existe um padrão específico para a sensibilidade. Há crianças que aceitam ou recusam alimentos em função de ser crocante, seco, molhado, cru, cozido, duro, amassado, pastoso ou macio. Algumas mães precisam passar o alimento na peneira. De outro modo, a criança recusa. O oposto também pode acontecer, de modo que outras mães precisam grelhar o alimento até ficar bem crocante.

Existem, ademais, restrições referentes ao odor do alimento, de modo que a criança recusa alimentos com cheiro forte, como “a parte do peixe que tem gosto forte”.  Há crianças que se queixam do cheiro da comida, sendo que para essas crianças pode haver também intolerância a perfumes.

Esses casos de restrição ou mesmo recusa alimentar, relacionados a uma hipersensibilidade sensorial, precisam ser trabalhados com calma e persistência, com auxílio de nutricionista, para que o incômodo causado pela textura e cheiro do alimento possam ser ultrapassados, gerando uma maior flexibilização no padrão alimentar.

Cristiane Lázaro – Nutricionista

Milena Pereira Pondé – Psiquiatra

 

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