Quando falamos em transtorno do espectro autista, é quase instantâneo pensarmos em crianças. Contudo, muitas vezes nos esquecemos do óbvio: nossas crianças autistas em breve serão adolescentes, jovens e adultos. Então, pensarmos a respeito dos desafios do autismo da adolescência é importante para familiares e para os profissionais que atendem estas pessoas.
Como em tudo na vida, sempre que nos antecipamos aos problemas, eles se tornam menores e de mais fácil solução. E com o autismo na adolescência não é diferente. Crianças no TEA que receberam intervenções adequadas, no momento correto e na intensidade suficiente, passarão pela adolescência de forma mais tranquila e sem grandes percalços.
Devemos sempre lembrar que a adolescência é uma fase cheia de desafios para todos, seja dentro ou fora do espectro. As habilidades sociais exigidas nessa fase da vida são enormes. Questões como a sexualidade, o primeiro namorado e as responsabilidades escolares aumentam consistentemente. É muito comum que o adolescente autista queira desenvolver sua sexualidade, mas não tenha as habilidades sociais específicas para isso, o que pode levar ao agravamento dos transtornos de ansiedade, depressão e baixa autoestima. Dados estatísticos nos mostram que as taxas de suicídio aumentam, significativamente, na adolescência e juventude em pessoas com autismo leve.
É interessante percebermos que tanto pessoas no TEA nível 1 (forma leve) como no TEA nível 3 (forma grave) experimentam dificuldades adaptativas na adolescência. Adolescentes no TEA nível 1 podem ser “ingênuos”. Por esse motivo, são mais susceptíveis ao abuso sexual. Isso não pode ser esquecido jamais. Precisamos ensinar nossas crianças desde pequenas a se protegerem de possíveis abusadores, dentro e fora de casa.
Adolescentes no TEA nível 2 (forma moderada) e 3 podem apresentar piora de comportamentos agressivos e maior agitação psicomotora. Isso ocorre porque seu desenvolvimento biológico, hormonal e sexual não é acompanhado pela maturidade comportamental necessária ao desenvolvimento de relacionamentos amorosos. Nos casos moderados e graves do autismo, trabalhar a independência para as atividades de vida diária e, quando possível, para as atividades de vida prática, é considerado um passo fundamental para o sucesso na adolescência e juventude.
Outra questão importante é que conforme, as crianças autistas crescem, curiosamente e inexplicavelmente, o nível de apoio nas escolas vai diminuindo. Contudo, muitos adolescentes autistas necessitarão de apoio pedagógico e de mediação comportamental por longos períodos dentro e fora das escolas. O que percebo na minha prática clínica diária é que muitas escolas imaginam que a partir do ensino fundamental 2 (sexto ano) estas pessoas não precisarão mais de qualquer apoio. O que está muito longe de ser verdade.
Outro aspecto que geralmente traz dificuldades adicionais na adolescência é a incapacidade de estabelecer uma comunicação funcional. Assim, é sempre importante lembrarmos que quando uma criança apresenta dificuldades significativas para aquisição da comunicação por meio da fala, devemos precocemente introduzir mecanismos de comunicação não verbal, alternativa e aumentativa. Conseguir estabelecer um canal de comunicação efetivo entre o adolescente e a família/sociedade é, provavelmente, o que de mais efetivo podemos fazer no sentido de prevenir comportamentos disruptivos.
O tema “autismo na adolescência” é extenso. Minha ideia com este pequeno texto foi iniciar uma breve discussão que possa gerar reflexões a todos nós. Gostaríamos de ouvir a opinião de vocês a esse respeito. Não deixe de usar a caixa de comentários!
Leia mais artigos do blog “Autismo Para Pais” clicando aqui.
2024 © Instituto Priorit - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por UM Agência