Embora o termo venha sendo cada vez mais utilizado, é possível que algumas pessoas ainda não o conheçam. Por isso, gostaria de começar pela definição de capacitismo. Ele se refere a toda forma de discriminação e preconceito social contra pessoas com qualquer tipo de deficiência física, mental, comportamental ou sensorial. Embora não saibamos exatamente sua origem, os primeiros registros do capacitismo estão na língua inglesa. Hoje, o termo é utilizado em praticamente todos os países do mundo.
É curioso como, às vezes, as coisas parecem acontecer exatamente no momento devido. No meio desse fogo cruzado em que estamos vivendo no Brasil, discutindo o nosso modelo educacional, escolas comuns e escolas de educação especializada. Na última semana, enquanto lia a nova edição da Revista Autismo, me deparei com uma matéria fantástica: “Capacitismo e Racismo: um Menino Preto e Autista não Oralizado”, escrita por uma mulher negra, autista e mãe de uma criança autista, a professora Luciana Viegas Caetano.
A matéria traz uma série de reflexões inteligentes e perspicazes a respeito de como a estrutura do sistema social no Brasil vem encarando as pessoas com deficiência. Luciana nos conta sobre sua genuína preocupação com o filho, desde que ele tinha somente 3 anos de idade, sobre um eventual momento em que ele fosse abordado por policiais na rua, ponderando as dificuldades de uma “criança preta e autista” nessa situação. Ela nos conta, ainda, a respeito das dificuldades em conseguir o diagnóstico precoce de seu filho Luiz e de como percebia a discriminação, nem sempre tão velada, de muitos profissionais de saúde. Em suas palavras: “talvez você não tenha percebido, mas há um olhar que marginaliza as pessoas pretas dentro da saúde”.
Na segunda parte da matéria, Luciana nos fala sobre seu auto diagnóstico. Embora tenha se percebido autista aos 26 anos de idade, ela jamais conseguiu ser adequadamente avaliada e diagnosticada por uma equipe de saúde capacitada.
Tenho certeza de que muitos que estão lendo este texto nesse momento pensarão: “Mas como você, que é branco e que não está dentro do espectro, espera compreender algo sobre racismo e capacitismo?”. E, honestamente, a resposta é que não espero. Há algumas verdades que somente quem as vivencia “na pele” é capaz de compreender em toda sua extensão.
Deixo aqui meu agradecimento à Luciana. Seu texto, com certeza, nos torna pessoas melhores, mais reflexivas e um pouco mais capazes de “calçar os seus sapatos”.
O Dr. Paulo Liberalesso é médico neuropediatra e diretor do CERENA. Leia mais artigos dele no blog Autismo Para Pais.
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