Com o aumento do número de diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) nesta última década, é cada vez mais frequente encontrarmos estas crianças nas escolas regulares no Ensino Fundamental. Mesmo no Ensino Médio, habitualmente temos observado alunos com TEA “leve” que, por apresentarem sintomas menos expressivos, encontram-se muitas vezes sem um diagnóstico definitivo. Recentemente, participei de um Seminário Acadêmico em uma Universidade no qual foram discutidos diversos aspectos a respeito da inclusão de jovens e adultos universitários com necessidades especiais nos cursos de graduação e pós-graduação.
Evidentemente, não existe uma receita básica e universal para inclusão educacional que possa ser aplicada em todos os casos, para todas as crianças com TEA. Embora a prática inclusiva seja desafiadora e gere inúmeras dúvidas e incertezas, há uma série de dicas que podem tornar este processo mais rápido, fácil e efetivo.
Embora algumas crianças autistas com sintomas comportamentais mais expressivos e com transtorno do desenvolvimento intelectual possam necessitar de uma escola de educação especializada, isso está muito longe de ser a regra. A grande maioria destas crianças poderá ser incluída na escola regular desde que algumas adaptações sejam implementadas e que suas particularidades educacionais sejam respeitadas.
Por sua própria natureza, as crianças mais novas são altamente inclusivas e gostam de cuidar dos colegas que eventualmente apresentem alguma necessidade especial. Assim, o quanto antes a criança com TEA for matriculada em uma escola comum, maiores serão as nossas chances de sucesso durante o processo de inclusão.
Particularmente quando tratamos do TEA, é importante ressaltar que existe uma enorme variedade de sinais e sintomas que podem ocorrer de forma isolada ou em associação. Assim, é essencial que os professores tenham acesso às informações referentes ao diagnóstico médico para que possam se adequar às necessidades daquele aluno. É necessário, também, que toda a comunidade escolar esteja envolvida no processo de adaptação e inclusão do aluno com TEA ou com qualquer outra necessidade particular – seja ela motora, sensorial ou intelectual.
Algumas dicas que podem ajudar neste processo:
- A maior parte dos autistas apresenta certa dificuldade em contextos verbais. Assim, quando nos dirigirmos oralmente a eles, devemos utilizar frases curtas, objetivas e direitas. Devemos lembrar que muitos têm uma interpretação literal da fala e não serão capazes de compreender o duplo sentido de uma oração.
- Pistas visuais costumam ajudar muito na transmissão de informações para crianças com TEA. Assim, sempre que possível, informações verbais devem vir acompanhadas por pistas visuais, como desenhos coloridos, imagens ou fotografias.
- Prever e antecipar acontecimentos pode ajudar a reduzir a ansiedade em muitas crianças e isso é particularmente verdadeiro em indivíduos com autismo. Muitas destas crianças têm certa rigidez mental e por isso são apegadas a rotinas de forma inflexível. Embora este aspecto possa ser trabalhado nas sessões de psicoterapia comportamental, no ambiente escolar deve-se alterar o mínimo possível as rotinas já programadas.
- Devemos estar cientes de que haverá casos de crianças com TEA grave ou associados a outras condições neurológicas mais severas que não poderão ser incluídos na escola regular. Mas são exceção. Uma vez que o aluno esteja regularmente matriculado, o setor pedagógico da escola deve definir se há necessidade de adaptações, não somente nas avaliações regulares, mas também na forma como o conteúdo pedagógico será transmitido diariamente, podendo ser criado um plano educacional individualizado.
- A presença de um mediador escolar junto à criança é considerado um passo essencial para o sucesso da inclusão em muitos casos. Este profissional apresenta funções importantes na mediação pedagógica e na mediação comportamental do aluno. Alguns dias, como ocorre com todos nós, o aluno com TEA estará mais ansioso e agitado e, nestes momentos, a atuação do mediador será fundamental retirando temporariamente o aluno da sala de aula e o acompanhando para outro ambiente. Um aspecto que ainda se encontra em discussão no âmbito das escolas, das famílias e mesmo no Judiciário, é sobre “quem deveria ser este mediador” e que formação ele deveria ter para que sua interação com a criança fosse a mais efetiva possível. Não se tem ainda uma resposta satisfatória para esse questionamento, embora conhecimentos sobre análise do comportamento aplicada fossem extremamente bem-vindos…
- Outro aspecto importante que devemos ressaltar é que, por algum motivo que ainda não compreendemos claramente, muitos autistas precisam, em alguns momentos, andar de um lado para outro ou executar algumas estereotipias motoras. Provavelmente isso auxilia na organização de seus pensamentos e de seu comportamento. Assim, havendo necessidade, o aluno deve ser liberado da sala de aula para caminhar pelo pátio, retornando em seguida.
- A presença de alguns objetos não pedagógicos na sala de aula deve ser permitida para estas crianças, como revistas, brinquedos não eletrônicos, entre outros. Muitos autistas, principalmente os mais novos, podem se beneficiar de um “objeto de transição”. Trata-se de um objeto escolhido pela própria criança que ela pode trazer todos os dias de casa ou deixar na escola permanentemente para que entre em contato quando chegue à sua sala de aula.
- Por fim, é importante que, através de palestras com profissionais da saúde e da educação, o corpo docente e discente receba informações de boa qualidade a respeito do TEA.
Como costumo dizer sempre: “Muito mais importante que a legislação brasileira a respeito da inclusão educacional de pessoas com necessidades especiais, é que cada um de nós desenvolva de modo amplo nossa ATITUDE INCLUSIVA”.