Talvez um dos sintomas mais frequentes e menos compreendidos nas crianças no transtorno do espectro autista (TEA) seja a hipersensibilidade auditiva. Para compreendermos um pouco deste assunto, precisamos conhecer duas propriedades básicas do som.
A primeira propriedade é a frequência – seres humanos são capazes de ouvir sons com frequências entre 20 Hz e 20.000 Hz. Sons com frequências menores que 20 Hz são chamados infrassons (ondas sonoras extremamente graves) e sons com frequência acima de 20.000 Hz são chamados ultrassons (ondas sonoras muito agudas). Percebam que animais diferentes têm percepções sonoras diferentes. Os elefantes, por exemplo, podem ouvir sons abaixo de 20 Hz, ao passo que cachorros e gatos podem ouvir ultrassons ao redor de 40.000 Hz. Golfinhos e morcegos, até 160.000 Hz. Como vocês já perceberam, a frequência é medida em uma unidade chamada Hertz, abreviada para Hz.
A segunda propriedade é a pressão sonora – o nível de percepção sonora indica a pressão com que a onda sonora atinge a membrana timpânica. Quanto maior a pressão sonora, maior o som. Poderíamos compreender essa pressão sonora como a intensidade, o volume do som. A pressão sonora é medida em uma unidade chamada decibel, abreviada para dB. Para termos uma ideia, duas pessoas conversando normalmente, estariam falando à aproximadamente 50 decibéis. Intensidades acima de 120 dB podem provocar desconforto e dor.
Agora que aprendemos a respeito destas duas propriedades do som, podemos dividir, de modo meramente didático, a hipersensibilidade auditiva em duas formas principais:
– Hiperacusia: a criança que tem a hipersensibilidade classificada como hiperacusia apresenta uma alteração na percepção da pressão sonora, ou seja, no “volume” do som ambiente. Desse modo, sons com pressão sonora inferior a 120 dB podem provocar desconforto e dor, desencadeando alterações comportamentais. É aquela criança que, quando subitamente ouve um som muito intenso, imediatamente leva as mãos às orelhas e pode apresentar uma alteração comportamental na sequência.
– Fonofobia: neste caso, a criança não apresenta alteração na percepção da intensidade do som, mas determinadas frequências sonoras (contidas entre 20 e 20.000 Hz), ao invés de serem transferidas e interpretadas pelo córtex cerebral auditivo, são transferidas para áreas cerebrais que gerenciam o COMPORTAMENTO, principalmente o sistema límbico (que compõe o sistema das emoções). O sistema do COMPORTAMENTO no cérebro humano não deveria receber estímulos elétricos do sistema auditivo e, quando isso acontece, podem surgir comportamentos disruptivos, como agressividade e autoflagelação.
A correta identificação e classificação da hiperacusia é fundamental para que a equipe possa traçar estratégias para minimizar o problema.
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