Hoje, nós não vamos falar sobre ciência. Vamos falar sobre algo que talvez seja mais importante que isso. Vamos falar sobre inclusão. É curioso que essa palavra ainda precise ser tão utilizada por todos nós diariamente. Mas vocês já se perguntaram por que nós ainda precisamos continuar falando sobre esse assunto a todo momento?
A resposta é simples: porque, de fato, ela não ocorre da forma como deveria.
Inicialmente, precisamos compreender que inclusão é muito mais que um conceito teórico e prático. Inclusão é uma forma de nos comportarmos. Portanto, inclusão não se destina a pessoas com deficiência e sim é algo que deveria controlar nosso comportamento em todas as nossas relações sociais.
Então, surge uma nova questão: por que algumas pessoas se comportam de modo inclusivo e outras não?
Porque o comportamento humano está sob o controle de inúmeras variáveis que influenciam nossa capacidade de agir e tomar decisões, como, por exemplo, aspectos culturais, relações de amizade, a educação familiar nos primeiros anos da vida e até mesmo eventuais punições que tenhamos sofrido.
O que eu quero dizer com isso é que, exceto em raríssimas exceções, que poderiam ser enquadradas em alguma psicopatia, as pessoas que não se comportam de modo inclusivo agem dessa forma por uma série de contingências que podem ser modificadas. Ou seja, estas pessoas podem aprender a se comportarem de modo inclusivo se forem adequadamente ensinadas.
Vou contar uma brevíssima história de consultório: acompanho, desde o nascimento, uma menininha que hoje tem cinco anos. Devido a uma grave infecção óssea ocorrida no seu primeiro mês de vida, ela perdeu a mãozinha esquerda. Os pais, sempre muito preocupados, quando foram matricular a menininha na escola em 2019, à época com quatro anos de idade, pediram para conversar com os alunos da sala de aula, na tentativa de explicar o fato.
Essa “reunião” entre os pais da menininha e os demais alunos da classe foi agendada. Mas já havia passado três semanas do início das aulas.
No dia e hora marcados, estavam lá o pai, a mãe e mais 7 crianças de quatro anos para terem essa “conversa”. Os pais explicaram tudo desde o começo, sobre o nascimento da menininha, sobre a infecção e sobre a necessidade de amputar a mãozinha, sob o olhar atento dos colegas de classe da filha.
Ao terminarem a explicação, perguntaram se as crianças haviam entendido e se tinham alguma dúvida. As respostas mostraram o quanto as crianças sabem mais sobre “inclusão” do que nós, os adultos.
Algumas crianças disseram que nestas três semanas ainda não haviam percebido que faltava à menininha a mão esquerda. Outra criança disse que poderia levar sua mochila, se precisasse. Outra, que as brincadeiras não eram “de mão”, eram de “correr com as pernas” e que, se preciso fosse, poderiam ajudar na hora do lanche.
Um dia, eu disse a seguinte frase: “Eu tenho um sonho. Eu sonho com o dia em que não precisaremos mais usar a palavra inclusão”. Porque, nesse dia, todos seremos como as crianças da sala de aula da menininha.
Para mais textos como esse, acesse nosso blog Autismo para pais.
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