Muitos pais relatam como seus filhos sofrem uma impactante rejeição ou exclusão social, em função da falta de habilidades sociais, do atraso (retardo) e/ou pelos problemas comportamentais que apresentam. Na percepção dos pais, os seus filhos são rejeitados pelos pares em função das suas características: porque não falam; porque são agressivos (batem e brigam com os colegas ao invés de brincarem); muitas vezes apresentam lentidão e incapacidade de compreensão (não conseguem entender as brincadeiras das outras crianças). Evidentemente, no processo de rejeição, a criança pode sofrer bullying na escola. Portanto, frequentemente, os pais consideram que os ambientes de socialização são inadequados para receber estas crianças. Além do processo de rejeição e exclusão pelos pares, alguns pais referem que a criança não é aceita nos espaços sociais comuns (como creche, escolas), pois os educadores alegam que não possuem habilidades necessárias para lidar com uma criança assim.
As dificuldades são também projetadas no futuro, gerando angústias sobre possibilidade futura de trabalho e de alcançar independência econômica. Nota-se, portanto como, nas falas dos pais, a doença se encontra em vários lugares, segundo cenários possíveis. Muitos interlocutores, por exemplo, veem na sua velhice e morte o fim de uma relação vital para o filho autista, geralmente totalmente dependente. Dentre as preocupações que norteiam as narrativas, a principal é que o filho, além de não conseguir ser independente, não vai conseguir construir uma família, ter uma vida afetiva satisfatória e enfrentar os problemas comuns da vida adulta. Esse tema é muito presente na narrativa de pais de crianças mais velhas com problemas comportamentais graves; daí a preocupação em relação ao futuro.
O pai de uma criança muito agitada e agressiva reitera na sua fala a preocupação com o comportamento disruptivo do filho, ao mesmo tempo em que revela a sua busca por um tratamento medicamentoso para conduzi-lo a uma melhora. Na sua fala, encontra-se implícita essa busca de auxílio.
“O futuro dele, eu não acho que ele tenha futuro, não como está agora, pois nem sabe ir ao banheiro e nem se comunicar. Só haverá futuro para ele se acontecer algo ou se houver alguma medicação para ajudá-lo. Não estou sendo pessimista, estou sendo sincero.“
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