Embora a associação entre vacinas e autismo seja um tema muito discutido e pesquisado pela ciência nas últimas décadas, este assunto continua intrigando familiares e até mesmo alguns médicos.
A origem deste mito é antiga. Tudo teve início em fevereiro de 1998, quando Andrew Jeremy Wakefield, médico nascido em Berkshire – Inglaterra, publicou na revista “The Lancet” (uma das revistas científicas mais prestigiadas do mundo) dados preliminares de uma pesquisa na qual ele descrevia os casos de 12 crianças com autismo e graves processos inflamatórios intestinais, correlacionando estas condições com a presença de vestígios do vírus do sarampo em seus corpos, possivelmente adquiridos após receberem a vacina MMR. A vacina MMR, amplamente utilizada até os dias atuais e também conhecida como “tríplice viral”, confere proteção contra o sarampo (Measles), caxumba (Mumps) e rubéola (Rubella).
Com base nestes dados preliminares, os autores desta pesquisa concluíram que estes fragmentos virais seriam capazes de desencadear, inicialmente, um processo inflamatório intestinal e, secundariamente, um quadro de inflamação cerebral que levaria aos sinais e sintomas comportamentais do transtorno do espectro autista.
Imediatamente após a publicação da pesquisa, as taxas de vacinação infantil no Reino Unido começaram a reduzir e, pouco tempo depois, o mesmo passou a ocorrer em outros países da Europa Ocidental e nos Estados Unidos. Para que tenhamos uma ideia do impacto sobre a saúde pública, no final dos anos 2000 o sarampo foi considerado endêmico na Inglaterra e no País de Gales. O resultado da queda nas taxas de imunização foi catastrófico, havendo aumento da incidência destas doenças em diversos locais do mundo, com casos graves e até mesmo fatais.
Poucos anos após a desastrosa publicação na revista “The Lancet”, surgiria uma nova hipótese de que uma substância rotineiramente utilizada na fabricação de vacinas, denominada timerosal, fosse a real responsável pelo aumento no número de novos casos de autismo ao redor do mundo. O timerosal é um composto com propriedades antissépticas e antifúngicas, indicado para a conservação de vacinas, medicamentos, imunoglobulinas e outras substâncias farmacológicas.
Poucos anos após a publicação de Wakefield, dezenas de pesquisas científicas bem conduzidas refutaram de forma veemente a relação entre a vacina MMR, o timerosal e os novos casos de autismo.
Ainda nos anos 2000, uma das mais importantes revistas científicas do mundo, o “British Medical Journal” denunciou que Wakefield teria recebido o valor de 435 mil libras para fraudar os resultados de sua “pesquisa” com o objetivo de que as famílias das crianças envolvidas processassem os fabricantes de vacinas. Além disso, pouco tempo depois, ficaria comprovado que parte das 12 crianças do estudo já apresentavam comprometimento neurológico antes de receberem a vacina MMR e que outra parte jamais teve realmente diagnóstico de autismo.
Em 2010, o órgão que regula a atividade médica no Reino Unido julgou Andrew Jeremy Wakefield não apto a exercer a medicina naquele país. Investigações subsequentes comprovaram que parte de suas “pesquisas” eram, na verdade, resultados de fraudes científicas. Mais tarde, a revista “The Lancet” publicaria uma retratação a respeito do assunto.
A partir daí, inúmeras pesquisas e publicações em periódicos médicos importantes afastaram de forma definitiva a relação entre vacinas, timerosal e transtorno do espectro autista. Diversas instituições acadêmicas de relevância mundial, como a Academia Americana de Pediatria e a Associação Europeia de Pediatria, recomendam fortemente que os calendários vacinais sejam integralmente cumpridos conforme as determinações de cada país. A falta de imunização coloca em risco não somente a criança propriamente dita, mas toda a comunidade local que se torna suscetível a contrair doenças infecciosas graves e potencialmente fatais.
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