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Inclusão escolar NÃO é um favor! – O que as escolas precisam aprender sobre nossos filhos.

O papo desta semana é sobre um ponto crucial para o desenvolvimento de nossos filhos com Autismo: a inclusão escolar. Não vou entrar no mérito da questão escolas regulares x escolas especiais. Isto fica para um próximo post.

Hoje é dia de colocarmos o dedo na ferida , ferida esta que dói , sangra e não cicatriza NUNCA.

Com a aprovação da Lei 12.764, conquistamos vários direitos para nossos filhos. Os portadores de Autismo passaram a existir, adquirindo direitos, pois foram equiparados às pessoas com deficiência.
Uma das grandes contribuições desta lei, foi o resgate dos autistas do limbo. Ainda assim, o que mudou após a aprovação desta lei? Pouco ou muito pouco…INFELIZMENTE!!!
Mas em momento algum isto agrega desmerecimento à Lei! Há toda uma história de luta por trás da criação e da aprovação desta lei. Ela foi feita com muito suor de mães e pais guerreiros que também derramaram muitas lágrimas neste processo.

Ainda recebo, quase que diariamente, telefonemas de famílias relatando que as escolas continuam a negar a matrícula de alunos autistas em seus estabelecimentos – mesmo este ato constituindo infração à lei 12.764! A grande maioria das escolas NÃO respeita a lei!
Da mesma forma, chegam ao meu conhecimento histórias de crianças que, supostamente, estão incluídas (pois tiveram suas matrículas aceitas), mas que na verdade estão apenas “passando” seu tempo na escola, pois esforços não são desprendidos, seja por parte da coordenação, seja por parte dos professores, para que este aluno conquiste algum conteúdo pedagógico. É a inclusão da exclusão, onde os alunos estão entregues à própria sorte.

Todas nós conhecemos casos de vagas disponíveis em colégios que, repentinamente, desaparecem quando lhes é mencionada a situação de nossos filhos. Existem escolas que para negar a pecha de preconceituosas, se escondem atrás da velha e enfadonha ladainha do ” não estamos preparados para receber seu filho, não seria justo não lhe proporcionar o atendimento adequado”.
Ora, ora !!! Vamos trazer os fatos à luz da Verdade:
Quem de nós recebeu “treinamento” para ser mãe de autista??? Verdadeiramente,  ninguém está pronto pra ter um filho “especial”! Da mesma forma, enquanto não tiverem em seus bancos escolares alunos com TEA, as escolas jamais se tornarão especializadas!
O tempo de nossos filhos é diferenciado, todos sabemos disso. É fato que travamos uma verdadeira corrida contra ele. Assim sendo, não podemos esperar pela reforma pedagógica inclusiva! Não temos tempo hábil para isso! Nossas crianças precisam ser recebidas pelos colégios, hoje, agora, já!
Isso não quer dizer, entretanto, que as escolas não devam passar por reformulações e que seu corpo docente não precise se especializar. Ao contrário! O que eu afirmo é que não podemos esperar anos para que isto aconteça, enquanto nossas crianças perdem o melhor de sua plasticidade cerebral!

O problema vem de cima e a complexidade é muito maior do que possamos imaginar. Há que ser feita uma grande mudança no conteúdo programático das faculdades de Pedagogia, proporcionando aos futuros professores conhecimento adequado e especializado para ensinar crianças com necessidades especiais.
Devem ser inseridas disciplinas que permitam aos profissionais entender o funcionamento de nossas crianças e que sejam capazes de qualificá-los para o dia a dia da sala de aula inclusiva. Oferecer treinamento a estes professores em forma de estágio, por exemplo, pode ser também uma boa forma de capacitação.
Mais do que isso, vou além: o professor, assim como todos os profissionais envolvidos neste processo, precisa ACREDITAR no potencial deste aluno, pois muitas vezes encontramos professores que acham que nossas crianças não “valem a pena” pois nutrem a falsa crença de que pessoas autistas não possuem capacidade para aprender.
E quando, porventura, conseguimos encontrar um colégio que aceite a inclusão e a faça de forma razoavelmente satisfatória, este colégio, na grande maioria das vezes, não aceita o MEDIADOR ESCOLAR, profissional qualificado, que está para o aluno autista da mesma forma que o Braille está para o deficiente visual e as libras estão para o deficiente auditivo (vide a Nota Técnica 24/2013/MEC/ SECADI/ DPEE, que versa sobre a orientação aos sistemas de ensino para implementação da lei 12.764/12).
A escola insiste que a professora tem condições de assumir o aluno com TEA e a turma simultaneamente. Todas nós sabemos que esta é uma tarefa praticamente IMPOSSÍVEL, pois nossos meninos e meninas demandam muitos cuidados e precisam de uma atenção individualizada, do tipo 1 para 1.
Entretanto,  seja qual for o caso, o ideal é que façamos valer SEMPRE os direitos de nossos filhos, pois se eles não tem voz, nós, pais e mães, somos os responsáveis por eles e temos a obrigação de gritar pela defesa de seus direitos.
Há alguns anos atrás, alguns de vocês sabem deste fato, tive problemas sérios com a escola que meu filho estuda. Muitos me aconselharam a retirá-lo da escola, e sem dúvida reconheço que este teria sido o caminho mais cômodo, menos doloroso e sofrido!!! Mas não foi esta a atitude que eu e meu marido tomamos.
Levando em consideração o AMOR que meu filho tem pela instituição, o trabalho maravilhoso que as professoras desenvolvem, aliados ao fato de ele ter construído um círculo de amiguinhos carinhosos e compreensivos, decidimos mantê-lo na instituição, lutando pela sua permanência na escola, juntamente com o processo de mediação, o que de fato aconteceu.

Outro fator importante que contribuiu muito para nossa decisão foi o fato de que acreditamos que nós (pais) devemos insistir, sempre que possível, junto às escolas, pois quando desistimos, seja por que motivo for, fechamos mais uma porta, não só para nossos filhos, mas para o enorme contingente de crianças autistas em idade escolar. Esta foi nossa experiência pessoal, devo ressaltar, sujeita a críticas;
Com os novos índices divulgados em Abril deste ano pelo CDC (Center of Disease Control and Prevention – Centro de Controle e Prevenção de Doenças, órgão norte-americano), que apontam que para cada 50 crianças em idade escolar, 1 está dentro do Espectro Autista, cada vez mais teremos a necessidade de escolas inclusivas para nossos filhos.

Quando   uma escola nega matrícula à uma criança autista e os pais se calam , a sensação que este colégio tem é a certeza de impunidade (a famosa frase brasileira do “tudo acaba em pizza”).
E esta certeza da impunidade faz com que eles continuem adotando as mesmas práticas abusivas e que vão contra a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, Tratados Internacionais e a Lei 12.764.
Sabemos que, infelizmente (reza a lenda), o Brasil é o país onde existem leis que “colam” e outras que não. Penso que não precisamos de novas leis. Precisamos que as leis vigentes saiam do papel e sejam respeitadas. Na atual conjuntura em que estamos vivendo, com a sociedade descobrindo a sua força e acordando para o fato de que podemos fazer  MUITO mais do que apenas reclamar e nos lamuriar, se torna imperiosa a necessidade de oferecermos nossa parcela de contribuição para este processo da inclusão integral.
A inclusão escolar NÃO é um favor! É um direito assegurado por lei! Mas a eficácia da legislação brasileira, bem como o seu cumprimento, depende também de cada um de nós.

 

Denise Aragão

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