Atire a primeira pedra aquele que NUNCA se lastimou pelo tempo perdido ou pelas oportunidades não abraçadas.
Faz parte da natureza humana lastimar tanto o que se fez quanto aquilo que se deixou de fazer. “Se eu pudesse voltar no tempo…” É uma frase que ouvimos e, muitas vezes, proferimos com frequência. Mas o que realmente está por trás desta aparente sensação de arrependimento? O que motiva em nós o desejo de refazer o que foi já foi feito?
A eterna crença de que SEMPRE poderíamos ter feito melhor.
Entretanto, depois do ato consumado, torna-se muito fácil perceber os erros e o que poderia ter sido feito de forma diferente. É claro que podemos e DEVEMOS aprender com os possíveis erros do passado, sem dúvida!
“Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia …”, já entoava Lulu Santos, com muita propriedade há muitos anos atrás, na famosa canção Como Uma Onda.
A vida se renova todos os dias, a cada instante. A cada amanhecer, acordamos mudados, com pensamentos diferenciados, pois não somos mais os mesmos de ontem.
Por que deveríamos então acreditar que nossos gestos, atos e atitudes estariam equivocados?
Fizemos o melhor que poderíamos ter feito ontem. Da mesma forma, faremos o melhor que pudermos amanhã.
E é isto que temos para hoje!!!
Outro ponto crucial que temos mal resolvido em relação ao tempo é o fato de nos angustiarmos com o amanhã. Estamos sempre pensando, projetando, fazendo planos para um amanhã que nós sabemos que pode ser MUITO diferente daquilo que imaginamos!!!
Porém, é ponto pacífico que não conseguimos fugir desta outra armadilha que o Tempo, com o auxílio caprichoso da VIDA, nos prega.
Tantas e quantas vezes me angustiei por conta de situações que jamais chegaram a acontecer no futuro, mas que eu havia imaginado que aconteceriam! E que me torturaram demasiadamente, não permitindo que eu percebesse o hoje…
Não foram poucas as vezes em que fiz planos e mais planos e que a Vida, sem pedir licença, jogou-os por terra, ensinando-me que pobres mortais (como eu!) sobre ela nada sabem.
Tomando como exemplo : temos sempre tantas expectativas para o futuro de nossos filhos!
O que nos faz pensar que temos este direito? A maternidade NÃO nos assegura criar planos para eles…
Mas ainda assim, não resistimos à tentação e sucumbimos a esta doce ilusão!
Falando um pouco de minha experiência pessoal, quando meu filho mais velho, Jorge, nasceu, a prematuridade e o estado de coma (ele foi submetido ao coma induzido com apenas dois dias de vida!) jogaram ao vento meus sonhos, sonhos de uma jovem que sonhava com seu primeiro filho, como todas nós sonhamos.
Sonhos que foram substituídos por sentimentos de medo, pavor e impotência, nunca antes por mim vividos.
No caso do João Pedro, o tombo foi ainda maior, pois o Autismo se encarregou de derrubar meus castelos de areia, sonhos frágeis, em um só golpe, sem mais delongas.
Ressalto ainda que devemos SEMPRE acreditar e trabalhar para a construção do futuro, sem sombra de dúvida. Não se angustiar com o futuro NÃO significa que não possamos trabalhar para construí-lo, mas sim que não podemos cair nas armadilhas que a ANSIEDADE nos prepara!
Por que devemos então nos angustiar com os eventos do passado, seja lamentando o que deixamos de fazer ou repensando a forma como fizemos, ou nos prendendo às possíveis intempéries do futuro, fantasmas que criamos em nossas mentes como verdadeiros vendavais, se todos estes nossos esforços serão praticamente em vão?
É essencial compreendermos que devemos viver o PRESENTE, e tão simplesmente o presente, que é o tempo de hoje, do agora e o único sobre o qual temos a possibilidade de agirmos. E é justamente no presente que todos nós, neurotípicos, autistas ou portadores de qualquer deficiência, vivemos.
O tempo pode ser nosso amigo ou inimigo, basta que saibamos usá-lo a nosso favor.
Eu opto por escolhê-lo como amigo.
E você? Qual é a sua escolha?
Denise Aragão
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