Há cerca de um mês, na recepção de uma clínica de imagens, vivi uma situação que, mais uma vez, chocou-me pela absurda falta de empatia.
Assim que terminei de responder a alguns e-mails e mensagens (ato que não levei mais de 10 minutos para fazer), guardei o celular e comecei a observar as pessoas ao meu redor.
Tenho sempre o hábito de levar um livro quando tenho exames desse tipo para fazer, mas, infelizmente, neste dia, acabei esquecendo o livro em casa, presente que recebi do meu filho mais velho no dia das mães.
Havia cerca de 30 pessoas na sala e todas, com exceção de uma senhora, estavam com os olhares e atenção voltados para as telas de seus aparelhos celulares.
O silêncio na sala só era quebrado pelos sons emitidos pelos aparelhos. Ninguém conversava com seu acompanhante; estavam sentados lado a lado, mas era como se estivessem sós. Não viam uns aos outros.
Foi quando vi uma jovem mãe e seu filhinho no final da sala. O garotinho estava inquieto, provavelmente irritado com a demora. Agitava as mãozinhas de uma forma muito peculiar e não demorei a perceber que aquela criança, com uns 3 ou 4 anos de idade, tinha TEA.
A mãe se esforçava para acalmá-lo; ora oferecia suco, ora biscoitos e frutas. Em outro momento, tirava livrinhos da bolsa, mas nada parecia surtir efeito por muito tempo; ele se tranquilizava brevemente para, no instante seguinte, se mostrar inquieto novamente.
Até que, procurando na bolsa, a jovem achou um carrinho que, ao que tudo indica, é o brinquedinho favorito do menino, pois ele imediatamente se acalmou.
Entretanto, minutos depois, o carrinho caiu de sua mão e uma roda se soltou. Foi o bastante para que a criança irrompesse em um choro intenso, gritando e se jogando no chão.
As pessoas, imediatamente, olharam na direção da mãe e seu filhinho. Os olhares eram de reprovação e os semblantes eram fechados e duros. Muitos murmuravam frases ríspidas e cortantes.
Em um impulso, levantei-me e fui até ambos. Ela, que estava atônita com todas aquelas pessoas olhando para eles e criticando-os, tentava acalmar o menino e, ao mesmo tempo, recolher todos seus pertences que haviam caído de sua bolsa.
Ao me aproximar, perguntei se poderia ajudá-la. À princípio, ela nada respondeu. Disse a ela que meu filho também tinha autismo e que eu já havia passado várias vezes por situações como aquela. Neste momento, ela ergueu os olhos cheios d’água e apenas me disse: “Muito obrigada!”.
Enquanto eu a ajudava a recolher seus objetos, ela havia conseguido recolocar a rodinha no carrinho e, então, o menino já havia se acalmado.
Não foi possível conversarmos, pois, neste momento, fui chamada para realizar meu exame. Despedi-me da jovem e, enquanto seguia pelo corredor, ainda pude ouvir os comentários das pessoas sobre o que havia acontecido: “um comportamento como esse não é normal!”.
E o que é normal?
É normal vivermos cada vez mais isolados uns dos outros, voltados apenas para nossas próprias vidas, sem sequer percebermos quem está ao nosso lado?
É normal voltarmos o olhar para nosso próximo a fim de criticá-lo, sem nos importar sua dor, sem oferecer ajuda, acolhida, sem sermos empáticos?
Estive naquela sala por quase meia hora e vi pais e filhos, casais, irmãos que, sentados lado a lado, sequer se olhavam e muito menos trocavam uma única palavra. E, ainda assim, essas pessoas acreditavam que o comportamento daquele garotinho com autismo é que não era “normal”, sendo passível de toda sorte de críticas e julgamentos.
Nossa sociedade está adoecendo e um bom começo para revertermos esse processo é buscarmos olhar uns para os outros com carinho, respeito, amor, tolerância e EMPATIA.
Quando a dor do próximo for também a nossa dor e quando o AMOR estiver a nos guiar, sem dúvida o mundo será um lugar muito melhor para se viver, pois quem ama não julga e não critica. Apenas acolhe, cuida, protege e inclui.
Denise Aragão.
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