“Meus dias, ultimamente, têm sido uma alternância de cansaço e desânimo. Levanto-me tão dolorida que parece que acabei de sair de uma “luta de boxe”… E sabe o que é pior? Comentei com minha irmã o quanto estava cansada e ela sequer me deixou terminar de falar; interrompeu-me dizendo que sou uma guerreira e que Deus jamais daria um “fardo” que eu não pudesse carregar. Acontece que meu filho não é um “fardo” e que guerreiras também cansam…”.
“Faço muitas atividades com minha filha durante o dia e, quando chega à noite, é normal o cansaço bater. Não sou de reclamar, costumo encarar as batalhas de frente, mas, de uns tempos para cá, tenho adoecido com frequência e vivo constantemente com dor de cabeça. Como nada é tão ruim que não possa piorar, ainda tive que ouvir de alguns familiares que tudo isso não passa de mi-mi-mi. Sinceramente? Ninguém merece!”
“Há tempos vinha me sentindo diferente, mas atribuía o cansaço à correria do dia a dia e à enorme quantidade de tarefas que preciso realizar diariamente. Afinal, trabalhar fora e cuidar sozinha de duas crianças com idades entre 5 e 7 anos, com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista, demanda muita energia e vitalidade! Na semana passada, após sentir-me mal no trabalho, precisei ser atendida em uma emergência. A doutora aconselhou-me descansar e evitar estressar-me em demasia. Então, eu pergunto: como fazer isso sozinha, com duas crianças com autismo? Liguei para a minha melhor amiga e contei o que estava acontecendo. Ela minimizou a situação, dizendo que hoje em dia todas as pessoas, sem exceção, vivem estressadas e que eu estava reclamando “à toa”. Acho que nunca me senti tão incompreendida e sozinha…”.
Dentre as várias mensagens que recebi no último mês, esses três relatos chamaram minha atenção por diversos motivos, mas principalmente pelo fato de as narrativas estarem ligadas por vários pontos em comum.
Todas trazem queixas de cansaço, dores pelo corpo e/ou desânimo. As três mulheres também possuem filhos(as) diagnosticados(as) com TEA e, segundo seus relatos, não possuem qualquer tipo de ajuda ou suporte no cuidado diário com seus meninos ou nas tarefas domiciliares. Resumindo: estão sozinhas.
E como se isso não fosse o bastante, quando decidem buscar por alguém que as ajude, ainda têm suas dificuldades minimizadas justamente por aqueles que deveriam lhes acolher, escutar e estender-lhes a mão.
Ao contrário do que as pessoas pensam, o que essas mulheres sentem NÃO é “normal”, frescura ou mi-mi-mi.
Para compreender melhor a situação, é preciso ter consciência de que esses sintomas não surgiram da “noite para o dia”. Foram se instalando aos poucos, sorrateiramente, sem que elas percebessem.
A incrível capacidade que nós, mulheres, temos de realizar diversas tarefas ao mesmo tempo faz com que estejamos quase sempre nos sobrecarregando de múltiplas atividades e atuando no limite de nossas forças. Esse fato talvez ajude a explicar parcialmente a situação.
Mas existem outras circunstâncias, muito mais maléficas, que, além de contribuir para agravar a situação, causam feridas profundas na alma e no coração.
Sabe aquelas vezes em que você saiu com seu filho e enfrentou olhares de reprovação e de preconceito? Ou, então, aquele convite para a festa de aniversário da turma da escola que nunca chegou; que você soube que todos foram convidados, menos seu filho? E aquele abraço, que você precisa tanto receber, de um familiar, mas que não vem nunca? E esse é o mesmo familiar que insiste em postar um “textão” no dia internacional de conscientização do autismo nas redes sociais, dizendo o quanto você é guerreira… E o que dizer sobre as ocasiões em que você saiu para buscar vaga para seu filho na escola e encontrou as portas fechadas? Ou, então, todas as outras centenas de vezes em que você precisou “brigar” com meio mundo para fazer valer os direitos de seu filho, porque vivemos em uma sociedade pouco empática e ainda preconceituosa?
Pois é…
Quando guardamos todas estas situações, “engolindo” dores e mágoas, acreditamos que estamos superando-as.
Contudo, um dia a “conta” chega e o corpo cobra. Não somos máquinas e, ainda que fôssemos, igualmente apresentaríamos “defeito”. Chega um determinado momento em que o nosso organismo não aguenta tanta demanda! Então, por mais “fortes” que sejamos, vamos sucumbir.
A situação vivida pelas mães dos relatos acima, infelizmente, não é “exclusividade” delas.
Tantas outras mulheres vivenciam essa mesma realidade de sobrecarga física e emocional, desprovidas de amparo e sendo julgadas boa parte do tempo.
Atire a primeira pedra aquela que nunca chorou escondida de todos, porque pensa que precisa ser forte o tempo todo.
NÃO precisamos ser fortes o tempo todo, porque NÃO somos super-heroínas! Somos seres humanos e se faz necessário respeitar nossos próprios limites.
Devemos ficar atentas aos sinais que nosso organismo emite, pois ele nos avisa quando algo não está bem.
Nosso corpo fala por ele, por nossa mente, nossa alma e nosso coração.
Escute a voz do seu corpo.
Denise Aragão.
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