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Todo lugar é lugar de autista!

Ao longo de nossas vidas, vamos repetindo clichês que ouvimos e assimilamos como “verdades absolutas”, sem que quase nunca tenhamos parado para refletir a respeito dos mesmos.

Desta forma, acabamos por internalizar concepções errôneas, ideias ultrapassadas ou preconceitos sobre temas que desconhecemos – ou até mesmo sobre aqueles que julgamos conhecer.

Não caberia aqui uma discussão à cerca de tudo aquilo que nos foi passado, até mesmo porque este não é o objetivo desta coluna. Abordaremos o assunto sob a perspectiva do autismo: o que dizer sobre os inúmeros estereótipos que recaem sobre as pessoas com autismo?

Apesar do gigantesco esforço feito por familiares de autistas e pelos próprios autistas em todo Brasil para conscientizar a sociedade, é possível observar que alguns conceitos equivocados permanecem fortemente enraizados no discurso coletivo.

Tomarei como exemplo a série americana que é sucesso mundial: “The Good Doctor”, cujo personagem Shaun Murphy é um jovem cirurgião que tem autismo e síndrome de Savant, e é extremamente habilidoso.

A série foi considerada, em sua primeira temporada, exitosa pelo público e grande parte da crítica, pois acertou ao abordar o tema com a delicadeza necessária, sem abrir mão da veracidade – item imprescindível quando opta-se em tratar um assunto como este em uma obra de ficção.

Grande parte do sucesso da trama se deve ao excelente desempenho do ator Freddie Highmore, que torna verossímil o personagem e possibilita a identificação imediata entre ele e o público.

Em muitos momentos da série, temos a sensação de que Shaun nos lembra alguma pessoa com autismo que conhecemos, seja nosso filho/a, o amiguinho com TEA da escola, a jovem que divide a sala de espera na terapia, o rapaz que vimos na tv.

Impossível não se emocionar com as agruras vividas pelo jovem médico, e ter vontade de lhe abraçar nos momentos mais difíceis, mais emocionante ainda é vibrar com as vitórias do jovem, e perceber que apesar das dificuldades, ele foi capaz de vencer!

Obviamente, o grau de autismo do personagem não representa todos os graus do transtorno do espectro autista, fato que não desmerece a iniciativa da série.

Contudo, apesar da ótima repercussão, surgiram questionamentos que julgavam impossível o fato do personagem ter se formado em Medicina, uma vez que inúmeras pessoas com TEA apresentam grande habilidade na área de Exatas.

É fato concreto que uma parcela significativa das pessoas com transtorno do espectro autista pode apresentar um desempenho acima da média nas áreas de Matemática, Engenharia, Informática e Contabilidade, por exemplo, e é justamente por este motivo que muitos autistas acabam optando por seguir carreira nestas profissões.

Entretanto, isto NÃO significa que as pessoas com TEA não possam se identificar com outras áreas do conhecimento, e que não apresentem habilidades totalmente diferentes da área de Exatas, por exemplo.

Quando ouço ou leio que autistas APENAS se tornam engenheiros, matemáticos, físicos, contadores, sinto-me profundamente entristecida em perceber que, mais grave do que propagar ideias equivocadas, é dizer para estas pessoas que elas não podem. Que elas não serão capazes de realizar seus sonhos, sejam eles quais forem.

Limitar os sonhos de um homem é cortar suas asas. Devemos dar-lhes condições de voar, ajudá-los a traçar seu mapa de voo, acompanhá-los durante o trajeto e, se ele/a precisarem de um copiloto, estarmos ao seu lado. Caso contrário, devemos apenas assisti-los voando e torcer para que dê tudo certo.

Conheço pessoas com TEA formadas em Comunicação Social, Economia, História, Direito, Psicologia, Música, Engenharia, Pedagogia e por aí afora…

Autistas, dependendo do seu grau de comprometimento, podem exercer as mais variadas profissões, contanto que recebam desde cedo o suporte para “chegar lá”.

O primeiro passo para isso é o diagnóstico precoce, passando pelo tratamento, inclusão escolar, ensino médio profissionalizante e vestibular adaptado (se for o caso).

Não existe profissão “determinada”, não existe lugar certo ou errado. O lugar de cada um de nós é aquele que a gente escolhe, aquele onde a gente se sente bem, onde a gente é feliz!

Denise Aragão

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