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Um amanhã para chamar de seu

“Quando olho para trás, parece que estou assistindo à uma espécie de filme. É como se aquela mulher que eu era antes do diagnóstico nunca tivesse existido… É uma sensação estranha, porque é como se eu não tivesse vivido aquela época da minha vida…”

“Nas poucas vezes em que penso no período que antecedeu o diagnóstico, o sentimento que experimento é de estranheza. É como se aquela fase tivesse sido vivida há muitos anos atrás, pois parece que décadas já se transcorreram desde que descobrimos que nosso filho tem TEA, quando, na verdade, só se passaram 6 anos desde a notícia.”

“O que eu lembro do período antes do diagnóstico? Sobre nossa família, tudo. Mas, ao meu respeito, praticamente nada. É como se todos os meus valores, crenças, tivessem sido “deletados” e eu tivesse sido “reiniciada”, não sei explicar o porquê… Sinto que sou uma outra pessoa, totalmente diferente.”

“Ao olhar as fotos, vídeos e todos os momentos que nossa família viveu, surpreendo-me com aquela mulher que olho, mas que não reconheço, pois somos tão DIFERENTES… Ela via a vida com lentes cor de rosa, eu a vejo com meus olhos bem abertos e isso me torna mais próxima da realidade, percebendo o preconceito e a incompreensão. Sinceramente, é difícil acreditar que algum dia, “nós” duas já fomos uma só pessoa…

Os relatos acima são reais.

Histórias de mulheres que tiveram suas vidas completamente transformadas após o diagnóstico de TEA de seus filhos, e que relatam não se reconhecerem nesta fase.

Depoimentos como estes, infelizmente, não são raros. É bem provável que muitas de nós já tenhamos sentido uma espécie de estranhamento ao olhar para “trás”, para algum momento desta longa jornada.  Atire a primeira pedra aquela que (ainda) não disse: “Sou uma pessoa totalmente diferente depois do diagnóstico”!

O diagnóstico de autismo age tal qual um tsunami em nossas vidas. Abala nossas estruturas e nos faz rever inúmeros conceitos e valores. Por este motivo, enfrentamos uma espécie de “metamorfose”.

Muitas de nós mudamos por completo, abandonando totalmente nossas vidas anteriores; outras, entretanto, vivenciam este processo de forma diferente, transformando-se pouco a pouco.

Por causa do diagnóstico, muitas mulheres, por diversos motivos que já abordamos em posts anteriores desta coluna, também optam por não abrirem mão (temporariamente) de suas carreiras e/ou empregos.

E então, chegamos ao ponto crucial desta narrativa: quando nos “despimos” do passado, é possível que nossas “vestes” antigas não se adaptem mais tão bem ao nosso corpo como anteriormente. É natural que isto aconteça em função das transformações pelas quais passamos, e isto pode se aplicar também às nossas profissões, mas não significa que devamos abandonar nossas formações anteriores.

Ao contrário, pode ser apenas que tenhamos descoberto novas vocações, talentos que jamais havíamos pensado que poderíamos ter dentro de nós, e que talvez tenha chegado a hora de pôr em prática tudo isso!

Conheço algumas histórias de mães que encontraram novos rumos em carreiras como Psicologia, Fonoaudiologia, Nutrição e Engenharia, por exemplo. Outras, abraçaram a educação e tornaram-se Pedagogas.

Contudo, a formação acadêmica é apenas um dos possíveis rumos a se tomar. O horizonte é rico em possibilidades, os novos caminhos são inúmeros e vão muito além disso.

As histórias de sucesso de mulheres que tornaram seus incríveis dotes culinários em buffets, e transformaram-se em empreendedoras bem-sucedidas, são emocionantes e inspiradoras!

Algumas mulheres se encontram na área de cosméticos, outras conseguem sucesso com franquias de lojas. Isso sem falar nas que possuem “mãos de fada” e produzem belos artesanatos de toda espécie, e tantas outras opções que não seria possível enumerá-las.

A busca pela nossa própria identidade e satisfação pessoal NÃO pode e nem deve ser esquecida ou abandonada.

Inúmeras vezes, inconscientemente, acabamos nos postergando, nos esquecendo de que a felicidade e o bem-estar de nossos filhos surge, prioritariamente, através do nosso próprio bem-estar.

Não é um processo fácil, reconheço, mas também não é impossível.

Se você acredita que é a hora de investir em um novo talento, vá em frente com confiança e fé.

Não importa qual seja a área, a carreira ou a profissão escolhida.

O mais importante é que você esteja feliz, viva seu presente da forma mais intensa possível e que tenha um AMANHÃ para chamar de seu!

 

Denise Aragão

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