“Você navega ou naufraga nas águas “azuis” do autismo?”
A recente descoberta de meu filho sobre sua condição tornou-o muito reflexivo. Inegavelmente, descobrir-se autista fez meu menino amadurecer e esta foi uma das grandes conquistas que tivemos em 2017.
( Se quiser ler mais sobre este assunto, clique aqui: “A Descoberta” )
Mas não é só meu filho que vive uma fase mais pensativa. Experimento a mesma necessidade de refletir. E foi justamente em um destes momentos de reflexão que recebi um email que chamou minha atenção e tornou-se a inspiração para o post de hoje.
O que diferenciava esta mensagem das demais era o fato de ser extremamente bem humorada, e trazer a seguinte afirmação: “Denise, um dia quero ser como você e quero SURFAR, tirando ONDA nas águas do AUTISMO, porque nestes seis meses de diagnóstico só estou tomando “CALDO”.
Impossível não admirar o bom humor que a leitora usou para escrever sua mensagem. Extremamente admirável sua atitude de sorrir, mesmo com imensa vontade de chorar! Entretanto, chamou-me a atenção e confesso que li e reli o trecho algumas dezenas de vezes; EU, “SURFANDO NAS ÁGUAS DO AUTISMO”?
De forma muito espirituosa, a leitora usa a expressão “surfar nas águas do autismo” referindo-se a superar de forma tranquila as situações que o autismo nos traz. Revisitei a memória em busca dos momentos bacanas que já vivemos ao longo destes 11 anos. Não restam dúvidas de que temos muito mais a agradecer do que a lamentar, pois foram inúmeras conquistas!
Mas, sinceramente, não me recordo de ter praticado tal “esporte” nestas águas nem sempre tão azuis e quase nunca tranquilas que o transtorno do espectro autista nos traz, pois sempre me preocupei em demasia, mesmo sabendo que esta, nem sempre, é a melhor forma de reagirmos frente às situações.
A grande verdade é que quando caímos de paraquedas neste universo totalmente desconhecido, rapidamente procuramos por botes infláveis que nos permitam ficar a salvo com nossas crias nessas águas profundas do autismo.
Então, olhamos ao redor e vemos aqueles que já estão navegando há mais tempo naquele mar. “Ah!”, pensamos então, “como navegam tão bem! Conduzem seus barcos com tanta destreza e sabedoria! São capazes inclusive de saltar de suas embarcações e encarar de peito aberto o mar revolto e bravio, sem sequer precisar do auxílio do colete salva vidas !”.
Indubitavelmente, a garra destas mães impressiona, pois são grandes “velejadoras” e as mamães recém-chegadas no universo autista pensam que terão dificuldades em navegar como as demais.
Entretanto, querida amiga, compreenda que, enquanto você sequer imaginava que um dia estaria nestas “águas”, eu aqui já estava. Ora nadando em águas plácidas e azuis, ora me debatendo em um mar revolto e turvo.
Perdi a conta das vezes em que naufraguei, engolida por ondas de medo e angústia, tendo aprendido esperar a maré baixar para recomeçar a nadar e colocar novamente o barco no prumo.
Assim sendo, você também aprenderá a reconhecer quando o vento sopra a seu favor, reconhecerá quando é hora de seguir viagem ou saberá o exato momento de pausar para recuperar o fôlego, tornando-se assim uma excelente navegadora!
Aos poucos, o tempo colocará tudo em seu devido lugar.
Nestas águas do autismo, não existem receitas milagrosas. Existem pessoas de carne e osso que tentam, erram, acertam, mas que, acima de tudo, AMAM incondicionalmente seus filhos e por eles são capazes até mesmo de enfrentar tsunamis.
Denise Aragão
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