Durante os séculos pudemos observar o quanto a ignorância é prejudicial à nossa sociedade. Milhares de mortes inocentes durante guerras, conflitos étnicos e religiosos destroçaram nosso planeta. A ganância, a vaidade e o desejo pelo poder esmagaram e eliminaram diversas civilizações, culturas e comunidades ao longo do tempo.
Na política, a manutenção de uma população ignorante e sem acesso à educação e à informação tornou, há centenas de anos, uma maneira fácil e eficiente de manter uma grande massa de manipulação eleitoral.
Deixando um pouco de lado a política e a religião, o campo da ciência vivencia problema semelhante. Enquanto os estudos em neurociência e medicina evoluem intensamente nos diversos centros de pesquisa, principalmente nos Estados Unidos e Europa, observamos o crescimento de “terapias alternativas”, pseudotratamentos sem comprovações científicas que tentam desqualificar o trabalho sério e ludibriar a mesma população que um dia se rebelou contra Oswaldo Cruz na épica Revolta da vacina ocorrida no Rio de Janeiro em 1904, devido a uma lei federal que obrigava a população a vacinar-se contra a varíola.
Quando palestro em escolas costumo realizar uma analogia de dois casos clínicos frequentes na medicina:
Fernandinha, 10 anos de idade, estava com “dor de barriga” há duas semanas. Sofria muito, faltava à escola e deixava pais e professores muito preocupados. Alertada pela professora sobre os prejuízos acadêmicos relacionados com a enfermidade da aluna, sua mãe a levou para um gastroenterologista que diagnosticou um problema químico em seu estômago, uma gastrite. O médico prontamente prescreveu omeprazol e uma dieta adequada. Fernandinha iniciou o tratamento, estabilizou seu problema químico estomacal e melhorou muito seu funcionamento social e acadêmico.
Enquanto isso, João, 10 anos de idade, colega de sala de Fernandinha apresentava problemas de relacionamento social com familiares, péssimo rendimento escolar e prejuízos na relação com os colegas na escola. Estava sofrendo muito, assim como sua mãe, entretanto apesar de alertada pela professora, não buscou tratamento. João apresentava um problema químico, assim como Fernandinha, mas essa alteração química afetava outro órgão. Não era o estômago, mas o cérebro. Por que Fernandinha pode se beneficiar de um tratamento médico que corrigisse o problema químico de seu estômago, enquanto João não?
Será justo o preconceito, a ignorância e o medo de sua sociedade excluir do tratamento médico correto essa criança? Aliás, essa é a principal razão que me motiva a lutar pelo respeito aos portadores de problemas comportamentais na infância e adolescência.
Nós, professores e profissionais da saúde, quando iniciamos nossa jornada profissional assumimos o compromisso de respeitar e lutar pela aprendizagem de nossos queridos estudantes e a difusão de informação médico-científica tem como objetivo diminuir preconceitos e ajudar com que estudantes se beneficiem de intervenções médicas modernas, quando necessário.
A luz da ciência não pode sucumbir à escuridão e mazelas da ignorância, da falta de informação e que leva ao preconceito. Sendo assim, concluo que a pior doença que pode existir é a própria ignorância. Ela emperra o desenvolvimento econômico, sociocultural e tecnológico de uma sociedade e condena milhares de estudantes que não têm a chance de aprender e se desenvolver academicamente.
Dr. Gustavo Teixeira
Médico psiquiatra da infância e adolescência
Professor visitante do Depto. de Educação Especial – Bridgewater State University
Mestre em Educação – Framingham State University
Contato: www.comportamentoinfantil.com
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