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Minha estória – parte 2

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Neste post eu tratarei de quando descobri que fui diagnosticado com “autismo de alto rendimento” e também de minhas primeiras grandes perdas e mudanças.

Como explicado ao final do post anterior, eu não sabia por que estudava com outras pessoas com necessidades especiais (aliás, na época, existiam poucas escolas públicas com profissionais preparados para receber e lidar com alunos com necessidades especiais, e mesmo em se tratando de escolas particulares, eram poucas as que tinham um processo pedagógico voltado à autonomia e ao desenvolvimento de alunos com necessidades especiais). Ao mesmo tempo, não tinha noção de porque eu ia a tantos especialistas (hidroterapia, psicóloga, fonoaudióloga, musicoterapeuta, etc.), uma rotina que era bem puxada para mim e para minha família.

Acontece, no entanto, que chegou um dia no qual eu acabaria sabendo por que isso acontecia comigo.

  1. Eu tinha nove para dez anos. Não lembro qual o dia, mas foi anterior ao meu aniversário de dez anos, eu acho: o dia em que minha vida sofreu uma “revolução copernicana”. Eu descobri que estava no Espectro.

Tudo começou quando vi um comercial sobre autismo na TV (possivelmente o comercial era feito pela AMA – Associação dos Amigos dos Autistas, mas pode ser que outro grupo de apoio a amigos e parentes de autistas tenha feito).

Então, eu cheguei à minha mãe e perguntei a ela: “O que é autismo”?

A hora havia chegado. Parafraseando Bruce Buffer, locutor oficial do UFC (Ultimate Fighting Championship, a mais famosa competição de MMA do mundo), “It’s TIME!!!”.

Minha mãe me disse que era algo que me tornava especial, que havia alguns graus de autismo, que em casos havia fortes déficits e em que não existia autonomia, casos em que havia evolução e em que algumas vezes, se manifestavam memória eidética ou fora do comum e/ou altos níveis de inteligência, e que muito ainda era pesquisado sobre o assunto. Em outras palavras, era o motivo de eu ir aos especialistas e de eu ter estudado em turma para alunos com necessidades especiais, e que, desde o início, meus familiares mais próximos decidiram investir em mim, mesmo indo contra os prognósticos que poderiam surgir a partir do diagnóstico.

Quase ao mesmo tempo, o destino começava a preparar o terreno para minhas primeiras grandes perdas e desafios. Em setembro de 2002, a mulher que durante os meus nove primeiros anos de vida foi minha babá se preparava para pegar um furgão que a levaria para a casa dela, quando ela foi atropelada. Ela acabou indo para o hospital, onde se submeteu a várias cirurgias. Ela só teria alta em outubro. Algumas semanas depois, eu a visitei na casa dela. Ela estava literalmente presa a uma cama, não podia se mexer muito, pois tinha ficado com (várias) sequelas do acidente. Eu conversei um pouco com ela, e disse que gostava muito dela.

Acontece que, infelizmente, eu não estava preparado para o que viria depois, ou para o que ocorria ao mesmo tempo.

Meus pais, em um período entre 1999 e 2002, eu não lembro ao certo, tinham muitos desentendimentos, pois o meu pai tinha um comportamento irregular, e em 2002 eles acabaram se separando. Saber disso deixou um grande impacto em minha vida e na da minha irmã, pois éramos muito pequenos, e a partir de tal momento, descobrimos que éramos somente nós três: eu, minha mãe e minha irmã. Por outro lado, a separação acabou nos fortalecendo cada vez mais enquanto família.

E, ao final de 2002, eu, minha mãe e minha irmã acabamos saindo da casa onde passei minha infância e nos mudamos para Jacarepaguá, onde moramos até hoje – inicialmente, moramos em um pequeno apartamento no Pechincha, próximo da escola onde eu estava cursando o que hoje em dia seria chamado de Ensino Fundamental II (da quinta à oitava série, em nomenclatura da época), próximo de onde minha mãe trabalhava à época. Isso, no entanto, nos obrigou, em pouco tempo, a começar a obter mais autonomia para ficar em casa, e ao mesmo tempo, facilitou nossa rotina; no entanto, acabamos ficando mais longe de nossos avós, e de minhas tias e de meus primos.

Nem bem tinha me mudado, em janeiro de 2003, quando soube da morte de minha  babá. Primeiramente, me recusei a acreditar. Depois veio a tristeza e a certeza de que eu nunca mais teria o colo dela. Mas isso passou e foi bem trabalhado por minha psicóloga à época, a diretora da escola em que eu estudava e também, claro, por minha família.

No final das contas, superei a morte da minha babá, mas não estava muito preparado para o que viria depois: a adolescência.

 

Até mais!

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