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Minha estória – parte 3

O tema deste texto será a minha adolescência.

Apenas alguns meses depois de descoberta a verdade, comecei, gradativamente, a ter esta noção de que eu era “diferente”, talvez “superior”, algumas vezes “inferior”, e ora eu explorava esta noção, ressaltava isso com o objetivo de me divertir ou talvez me rebelar – algo que, em minha opinião, era provocado pelo meu desempenho escolar muito bom à época.

No entanto, eu acabei sendo vítima disso, o bullying. Quem nunca foi?

Bem, começou ainda na quarta série. Alguns colegas meus me ridicularizavam e caçoavam de mim por eu usar óculos. E geralmente faziam isso para me desestabilizar.

Tinha vezes em que eu tinha uma determinada consciência a respeito, mas não conseguia agir diferente.

E então, ela chegou. A adolescência.

Para mim, foi um período complicado e intenso, e que, devido ao autismo, eu vivi com ainda mais intensidade. E, claro, um período conturbado.

Nesta época eu tive a ajuda de meus familiares, da minha psicóloga à época, minha fonoaudióloga e de minha musicoterapeuta. Também fui ajudado pela diretora da escola em que eu fiz meu ensino fundamental – que, devo ressaltar, ela era e ainda é uma profissional qualificada, visionária e ao mesmo tempo muito acolhedora – e meus (poucos) amigos à época.

Um incidente que marcou muito a minha vida foi a minha primeira paixão, que infelizmente terminou com uma rejeição – e me afetou bastante.

Outro incidente que também me marcou muito foi a saída do meu melhor amigo da escola em que eu estudava, e a consequente ida dele para outra escola. Achei que não iria sobreviver sem ele, mas depois que minha psicóloga à época e a diretora da escola trabalharam esta questão comigo, eu fiquei por mais um ano na escola.

Sim, isso mesmo. Eu podia ter ficado mais tempo, mas eu decidi mudar de ares e decidi trocar de escola depois que me formei na oitava série (atual nono ano).

Naquela época, eu comecei a manifestar, pela primeira vez, estranhas sensações quando encontrava pessoas conhecidas, como algum colega meu. Eram as crises de ansiedade. Sim, isso mesmo, eu tinha, e às vezes ainda tenho, ataques de ansiedade quando encontro pessoas conhecidas, seja ao acaso ou quando é um encontro combinado.

Ainda em 2006, fiz uma pesquisa sobre autismo para um trabalho de uma feira de ciências da escola, em parceria com alguns colegas meus. A minha parte na pesquisa envolveu a criação de um cartaz baseado em algumas personagens apresentadas no livro de Oliver Sacks Um Antropólogo em Marte, no caso as personagens eram o desenhista autista e savant britânico Stephen Wiltshire, e a engenheira e bióloga autista americana Temple Grandin, e também tinha uma menção ao filme Rain Man, que foi mencionado no capítulo em que Sacks fala de Wiltshire, “Prodígios”; mas o cartaz não se limitava às personagens do livro. Ele também tratava da síndrome, com riqueza de detalhes.

E, em 2007, eu saí da escola onde fiz o ensino fundamental e passei a estudar em uma escola regular, ou seja, sem especialização em deficiências ou necessidades educacionais especiais, e a adaptação à escola foi meio difícil, mas acabei tirando de letra. Afinal, estava começando a ficar mais maduro.

Ao mesmo tempo, nesta época, minha mãe decidiu que nós nos mudaríamos para outro apartamento maior do que o apartamento em que morávamos. Decisão acertada e sábia, pois acabei começando a participar cada vez mais, com o tempo, dos processos de administração de tarefas domésticas.

No entanto, eu ainda voltava para casa de condução, e só passei a ir para casa a pé a partir do segundo ano do Ensino Médio.

Ao mesmo tempo, eu tentava lidar com as garotas do meu colégio. Muitas eram bonitas e elas nunca me notavam. As únicas que me notavam só me queriam como “amigo” e geralmente eram comprometidas com outros rapazes, geralmente maiores que eu em tamanho ou que podiam até se vestir melhor, cujo desempenho escolar não era tão bom quanto o meu.

Além disso, nesta época de adolescência, eu tive provações como mudanças no corpo e nos hormônios por ele disparados para se manter, o que me fez com que sentisse as coisas mais intensamente que os outros.

Ao mesmo tempo, me surgiu, depois de uma consulta à minha psicóloga à época, a seguinte dúvida: eu era “autista de alto funcionamento” ou Asperger? Tal questionamento só foi resolvido na vida adulta.

Em 2009, eu tinha uns 16 para 17 anos quando decidi tentar entrar em uma faculdade pública nem que esta fosse a última coisa que eu fizesse em minha vida, mesmo eu já estando em uma época na qual revisar os conteúdos que eu tinha aprendido fosse uma tarefa irritante – o que me pôs sob mais pressão, juntamente com uma certa indecisão sobre a melhor carreira a seguir.

Acabei, mesmo hesitante e sem muitas opções (eu queria Comunicação Social), escolhendo Biblioteconomia, e fui fazer tal curso na UNI-RIO, para onde eu tinha passado pelo Sisu, usando o resultado do Enem à época (eu peguei o chamado “novo Enem”, que havia começado exatamente em 2009). A nota foi suficiente para entrar no curso de Biblioteconomia, que era na Urca, mas só na terceira e última tentativa. Apesar de poder tentar vestibular outras vezes, optei pela UNI-RIO para contar com o apoio de minha irmã, pois a minha experiência em andar sozinho, à época, se resumia a ir e voltar do colégio em que eu fazia o segundo grau.

No próximo post eu tratarei do início do meu tratamento com a dra. Catula, quando ela ainda não clinicava no Instituto Priorit, e também sobre o início de minha vida adulta. Até!

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