Este post conta a última parte de meu histórico com base em minhas características, perdas e conquistas. Neste post tratarei de como comecei a ficar mais consciente sobre meu autismo/Asperger, sobre como obtive meu primeiro emprego e sobre a retomada de meu tratamento.
Em maio de 2014, eu decidi retomar o tratamento com a Dra. Catula, e passei a ser também acompanhado pelo Dr. Caio Abujadi, devido à questão do sono ruim e das obsessões (que, infelizmente são muito comuns em pessoas Aspergers). O Dr. Caio, aliás, me passou um remédio (Aristab, ao qual eu me refiro jocosamente como “meu amigo hindu”, como o filme, devido ao nome do remédio soar como um nome próprio/pessoal de origem indiana), e dois suplementos (Melatonina e Ômega 3). Achei que eu não precisaria NUNCA tomar remédios. E estava errado. Inicialmente, o Aristab me deu alguns efeitos colaterais, como dormir mais do que o normal/necessário, mas estes passaram com o tempo, e hoje em dia, estou muito bem adaptado ao remédio.
Ao mesmo tempo em que retomei o tratamento, eu fiz alguns exames, e foi confirmado mesmo que eu era um Asperger. A dúvida que me surgiu na adolescência, se eu era Asperger ou autista de alto funcionamento, estava solucionada.
As obsessões, claro, desapareceram como a gota d’água que é atirada sobre o ferro quente.
Desde 2014, eu tenho conhecido, tanto na faculdade de Biblioteconomia quanto no Instituto Priorit, pessoas que me têm ajudado a me aceitar como sou, e ao mesmo tempo, a me dar mais consciência em relação a determinadas questões – não só culturais e sociais, como também pessoais. Estas pessoas (não citarei os nomes e quem elas são porque, senão, eu tornarei o post mais longo do que ele já é) me têm estimulado não só a aceitar minha condição, como também a desenvolver minha empatia por outras pessoas. Foi também em 2014 que apresentei meu trabalho de conclusão de curso da faculdade, sobre Folksonomia e Organização do Conhecimento. No entanto, minhas formaturas (tanto a oficial quanto a de “brincadeira”, que era a festa de formatura em si) foram no ano seguinte, 2015.
Com o fim da faculdade, comecei a ansiar por um primeiro emprego, e tentei alguns concursos públicos, sem sucesso, entre 2015 e o ano passado. /(o post foi escrito no ano passado, mas só este ano, 2017, é que ele foi publicado)/
Porém, entre abril e maio do ano passado, pessoas ligadas à Artplan, uma grande agência de publicidade brasileira, entraram em contato com a Dra. Catula e ela falou de mim para eles, e eles decidiram tentar me contratar. Duas semanas depois de receber a notícia de que eles queriam me contratar, a gerente de gestão de pessoas e o supervisor de RH da agência vieram à clínica para me conhecer (e, claro, me entrevistar – e eu não sabia que estava sendo entrevistado).
Acabei, claro, indo muito bem na entrevista. Fui contratado. Comecei a trabalhar em maio do ano passado. Nem acreditava no que estava acontecendo. Um golpe de sorte, literalmente.
Há quase um ano que trabalho como assistente administrativo júnior no setor de TI da matriz da Artplan, situada no Rio de Janeiro. Estou satisfeito com meu trabalho. Ainda assim, como Fernando Pessoa, o lendário poeta português, disse em seu leito de morte “I knownotwhattomorrowwillbring” (ou, em bom português, “não sei o que o amanhã me trará”). Ou, como eu disse para uma professora de uma matéria que eu tive no primeiro período da faculdade, logo no primeiro dia de aula da matéria dela, “vamos ver no que vai dar”.
Creio, no entanto, que isso esteja dando em alguma coisa interessante e muito boa de se ver… até agora. Há algum tempo eu tive a ideia de escrever um blog sobre autismo e assuntos afins, mas só há alguns meses que eu expliquei minhas ideias à Dra. Catula, e ela me sugeriu que eu escrevesse para o site do Instituto. E aí, eu topei. Por duas razões. Primeiramente, queria um canal confiável para expor minhas ideias – que, aliás, podem mudar a qualquer momento. A segunda é que eu quero ajudar as pessoas. Não que isso seja caridade, mas acredito que seja parte do dever moral de uma pessoa envolvida com qualquer questão quebrar o tabu sobre a mesma. Tem muitos tabus sobre autismo/Asperger que devem ser quebrados e/ou questionados, aliás. São tantos que não me demorarei muito a falar deles.
Mais uma coisa: eu pretendo também escrever obras ou partes de obras tratando do assunto autismo/Asperger e afins, ou mesmo colaborar com tais obras e partes de obras.
Das características que eu mantenho hoje, eu trato da ausência ou quase inexistência de contato visual com outras pessoas; a seletividade para com alguns alimentos, a aparente insensibilidade a certos eventos que ocorrem comigo ou com pessoas muito próximas, e mesmo com pessoas que sequer conheço; a aparente resistência a mudanças de rotina; às vezes ajo como se estivesse ou fosse surdo; não raro mantenho interesses repetitivos e às vezes incomuns (mas que podem mudar ou mesmo desaparecer com o tempo); problemas com objetos ou seres vivos em certas velocidades, e, por último, mas não menos importante, eu me mantenho muitas vezes distante e retraído (embora eu não considere uma característica do autismo em si e sim um traço de minha personalidade – eu sou um tanto introvertido). De resto, me pareço com uma pessoa neurotípica (ou com funcionamento do cérebro “normal” ou “típico”) em algumas coisas.
Enfim, aqui estou eu. Terminei a série de posts sobre meu histórico. O próximo post tratará sucintamente da maneira como eu vejo o autismo (e a Síndrome de Asperger, claro), o que eu penso de tal assunto e de questões relacionadas ao mesmo.
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