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Minha estória – Parte 1

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Neste post e nos próximos três, eu contarei um breve histórico de minha vida, com ênfase nas características que me tornam um integrante do Espectro Autista, bem como algumas de minhas conquistas e perdas. Este post contará a minha história do nascimento à descoberta do diagnóstico, com 10 anos de idade.

Eu nasci em 1992, em Niterói, devido a um capricho do destino, e moro no Rio de Janeiro desde as primeiras horas de vida.

Eu era aparentemente “normal”, mas entre um ano e seis meses a dois anos minha mãe começou a achar estranha a maneira como eu me desenvolvia social, cognitiva e fisicamente. Era uma maneira bastante diferenciada em relação a outras crianças da minha idade (inclusive minha irmã).

Eu era meio seletivo com comidas, demorava a ser introduzido a cada alimento novo, sempre comendo só sopa, e, mesmo assim, de legumes, nos primeiros meses de minha vida; além disso, eu era e continuo sendo seletivo com embutidos de origem animal como bacon, linguiça e carne seca, entre outras “dificuldades”.

Além disso, tinha uma comunicação atípica (nos primeiros anos de minha vida, falando sempre uma única sílaba: “ca”). E quando aprendi a falar (mais sobre isso abaixo), eu às vezes falava em um tom monótono e robótico, e quando lia em voz alta lia muito rápido.

E ainda tinha problemas em amarrar cadarços de sapatos, em especial tênis e também em vestir algumas roupas.

Aprendi a falar à medida que aprendia a ler – no caso, eu gostava de ler toda e qualquer coisa que me aparecesse, em especial revistas em quadrinhos. As minhas favoritas eram as da Turma da Mônica – o que meio que me causou, claro, em uma (provável) tentativa de imitar a fala do personagem Cebolinha, a confusão dos sons do “r” brando e do “l” em todas as posições exceto a de final de sílaba.

E ainda gostava de ver programa político (só para memorizar os nomes dos, à época da minha infância, mais de vinte partidos políticos existentes no Brasil, lógico, o que não era brincadeira, e mesmo sem saber as ideologias dos partidos políticos existentes na época) e por aí vai.

Por conta disso, em meus primeiros anos de vida, ocorreu uma quase peregrinação por especialistas para saber o que estava tão “errado” comigo. E, com três anos, foi descoberto por um médico paulistano que eu tinha “autismo de alto funcionamento” (um diagnóstico que, conforme os anos passaram, foi alterado para “Síndrome de Asperger”).

Aí, eu comecei a me tratar com especialistas como psicóloga, fonoaudióloga, musicoterapeuta, entre outros; sendo que com oito anos eu só me tratava com estes três primeiros.

E, além disso, eu estudei em uma escola especializada em educação especial da primeira à oitava série (atuais segundo a nono anos do ensino fundamental – eu uso neste post a terminologia antiga, com a qual eu sou mais familiarizado), sendo que nas duas primeiras séries, eu estudei em turma para alunos com necessidades especiais (ou deficiências, se preferir). E da terceira a oitava séries eu estudei com alunos “normais” (ou seja, sem deficiência e/ou neurotípicos). Em minha escola eu era considerado um bom aluno, para ser mais exato um dos melhores de lá, só tendo entrado em recuperação uma única vez e tendo sido advertido uma única vez na minha vida (no próximo post eu falo mais a respeito de tal incidente). Se eu gostava desta escola? É claro que eu gostava, apesar de tudo!

Eu não tinha noção de como e porque estudava em classes de pessoas com necessidades especiais ou porque eu ia aos especialistas. No máximo do máximo, eu me julgava “especial”, mas não sabia o motivo. Talvez porque eu estudasse em uma classe para pessoas com necessidades especiais. Mas, no meu íntimo, ignorava qual era esta “necessidade especial”. No entanto, eu me sentia especial. Mesmo.

Até que, de nove para dez anos, em 2002, ocorreu o dia mágico, o dia em que minha vida mudaria de vez.
No próximo post eu falo mais sobre este dia, bem como sobre a minha adolescência. E no post depois deste tratarei do início de minha vida adulta e de como eu conheci a Dra. Catula Maia. E no que vem depois, que será o último contando meu histórico, trato de como estou hoje e da segunda retomada de meu tratamento (sim, eu interrompi meu tratamento duas vezes).

Enfim, é isso.  Até breve, pessoal!

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