Autismo para pais

Amamentação de crianças com TEA: a visão de mães

Uma pesquisa que fizemos com mães de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo revelou alguns aspectos importantes referentes ao padrão alimentar da criança. Foram mencionadas características relacionadas à amamentação, mastigação, modificação do comportamento alimentar, preferência alimentar e restrição alimentar. Falaremos hoje sobre como as mães descrevem o período de amamentação dos seus filhos.

As mães descrevem três padrões de condução do aleitamento:

1) Algumas mães relataram que a amamentação foi interrompida precocemente, em geral porque a criança rejeitava o peito. Houve relatos de dificuldades ao amamentar exclusivamente com leite materno devido aos problemas de sucção da criança e rejeição ao peito antes dos 6 meses de idade. Uma das mães diz: “Desde o início ele rejeitou muito o peito e só mamou na primeira semana. Depois eu botava ele no peito e ele não queria mais e ficava chorando e gritando com fome… Ele tentava sugar. Logo no início ele sugava e depois largava o peito. Era como se ele não estivesse gostando… Fazia aquela força, depois largava e começava a chorar”. Esse relato sugere que a criança tem dificuldade de sucção e por isso rejeitava o peito.

2) Outras mães amamentaram entre seis meses e dois anos com leite materno associado a um complemento. Dentre elas, algumas insistiram em amamentar até os dois anos de idade da criança, por recomendação médica, e também pela própria vontade de manter o aleitamento por mais tempo. A associação do leite materno com um complemento se fez necessária pelos seguintes motivos: pela quantidade insuficiente do leite; por recomendação médica pelo fato do bebê chorar muito; ou porque aos quatro meses o bebê começou a cuspir o leite materno, revelando rejeição ao mesmo.

3) Houve ainda mães que prolongaram a amamentação até 3 a 5 anos de idade, mesmo quando a criança já fazia uso de uma alimentação diversificada. “Na verdade eu amamentei até quatro anos e meio. Só, sem outras alimentações, foi até os seis meses. Depois dos seis meses é que teve o complemento”.

Outros estudos, além da nossa pesquisa, indicam que é comum a existência de práticas consideradas desfavoráveis de amamentação em crianças com TEA, tais como início tardio, a não ingestão de colostro, uso de mamadeira e redução no período de aleitamento materno exclusivo. Os relatos das entrevistas levantam a suspeita de que o desmame precoce das crianças com TEA pode ter relação com o início das manifestações do transtorno. Dificuldades na sucção, tanto do peito como da mamadeira, foram relatados em casos de interrupção ou intervenção precoce com leite artificial.

 

Milena Pereira Pondé – Psiquiatra

Cristiane Lázaro – Nutricionista

 

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