Blog

Transtorno do Espectro Autista: questões

Caros Leitores,

É com imenso prazer que me coloco à disposição de vocês em mais uma linha de contato. Como venho recebendo inúmeras dúvidas de parentes e profissionais a respeito das questões relacionadas ao Transtorno do Espectro Autista, decidimos iniciar um contato através desse blog. Gostaria de lembrar que esse espaço serve para discussão. Considero-me na posição de um estudioso, mas gostaria que compartilhassem suas opiniões mesmo que contrárias às minhas. Sintam-se à vontade.

Bom, vou começar discutindo uma questão que a maioria das pessoas tem dificuldade de compreender. Por que os pacientes com o Transtorno do Espectro Autista variam tanto em sua forma de apresentação? E mais, porque mudam tanto de acordo com o desenvolvimento? Vemos muitos pacientes que não falam até 4 anos terminarem a faculdade e outros que iniciam o processo de desenvolvimento de forma tão sutil e em alguns momentos podem se desorganizar em alguns momentos. Em todas as primeiras consultas, os familiares chegam ávidos pela grande informação: qual é o tipo de Autismo que meu filho tem?

A resposta a esse problema se resume a uma palavra: “epigenética”. Guardem esse termo, pois vamos falar muito dele ao longo de todo nosso tempo juntos. Epigenética representa a relação entre o ambiente e a manifestação de nossa genética. Sempre soubemos que o ambiente podia modificar nosso organismo, mas isso é muito mais intenso. O ambiente pode selecionar quais perfis genéticos (que às vezes estão lá, paradinhos, sem funcionar), vão começar a gerar novas funções no nosso organismo. E mais: essa relação é responsável por ativar todos os milhares e milhares de genes que são responsáveis por nosso desenvolvimento no tempo certo. Estamos, ainda, descobrindo que uma das maneiras disso funcionar é através de nosso sistema imunológico. Além de todos os nossos “seis sentidos”, temos um sétimo. Pasmem: é o nosso sistema de defesa. E como ele faz isso? Liberando substâncias inflamatórias, que se espalham pelo organismo e o preparam para o perigo. Assim como nossos olhos nos alertam quando vemos um bicho peçonhento, ou quando nosso nariz sente o cheiro de uma comida estragada.

E mais: temos o controle sobre o ambiente de nossos filhos e paciente ou alunos, portanto somos parte dele. Tornar esse ambiente tranquilo e saudável favorece um desenvolvimento melhor. Um tratamento que reconhece qual o momento certo de estimular cada atividade tende a ser mais eficiente. Um tratamento em que todos os terapeutas, pais e professores trabalham as mesmas metas pode fazer a genética responsável pela função desejada ser despertada. Temos que ter uma vida saudável e todos da família terão que participar, pois a ligação entre todos é muito íntima. Alimentação, sono, atividades de lazer, físicas e de relaxamento devem ser feitas diariamente por todos. Todos devem estar estáveis emocionalmente o máximo possível e devem trabalhar juntos cada um em suas funções para que os momentos de crise passem.

Nos tempos modernos, isso é muito difícil de controlar. E, por isso, as doenças mentais e neurológicas têm aumentado tanto. Essa mesma epigenética manifesta quase todas as doenças, incluindo câncer, doenças imunológicas, diabetes, pressão alta, dislipidemia, etc. E o pior é que passamos essa herança para as gerações futuras. Nosso organismo manifesta essas doenças para se defender desse ambiente tão hostil e estressante e, em longo prazo, estamos ficando deprimidos, ansiosos, obsessivos, esquizofrênicos, bipolares e autistas. Preocupamo-nos tanto com nossos filhos, mas às vezes sofremos mais do que eles.

Agora, também temos notícias boas. A mesma epigenética que manifesta doenças também manifesta curas. Pessoas que estabilizam seus ambientes ficam menos doentes e transmitem essa estabilidade a seus descendentes. E o melhor: quanto mais famílias estáveis, mais comunidades estáveis e, por conseguinte, mais tranquilo fica o ambiente. Já imaginaram se todos fossem tranquilos, se o seu chefe te recebesse com aquele bom dia caloroso mesmo que você tenha chegado atrasado? Se as pessoas todas se respeitassem no trânsito, se não houvesse tanta raiva? Opa! É melhor eu parar que já estou soando como um certo John Lennon em “Imagine”.

Vamos refletir como queremos nosso ambiente. E devagarzinho vamos mudá-lo. Não precisa chegar no ideal, mas se cada um de nós mudar um pouquinho, teremos grandes mudanças.

Grande Abraço,

Dr. Caio Abujadi

Compartilhe:

2025 © Instituto Priorit - Todos os direitos reservados.

Desenvolvido por UM Agência